ANGÚ DI UM DIA SÓ
Mas intão, poisé... O sinhô pode até instranhá, que eu falo muito dimais em coisa de pobre, i di cumida. Pode até sê que é. Mas, o sinhô intente tomém qui assunto di pobre é assunto barato i sem muita fidalguia.
Não é ingual as conversa dos ricos, cheia das prosopopéias, i “ por quem sois” qui até parece qui tão falando em língua di gringo, qui é promode a gente não intedê nada.
Mas o sinhô intende tomem, qui a gente semos inguirorante mas não semos burros, i sabemus muito bem o qui qui é verdade, i o qui qui é cunversa di inrrolação pra levá no bico os pessoal trabalhadô, sertanejo, mas, qui é eleitô, i pra eles, é só isso qui interessa.
Mas, eu acho qui já to arrodiando muito. Vomos falá di cortiça, qui é pau qui bóia...
I cumo eu ia dizeno... É qui já tá chegamo o tempo das eleição. I o sinhô sabe cumo é qui é. Aqueles pessoal, qui já tivero aqui, quatro anos antis, i qui prometero melhorá a vida da gente... Pois é! Eles tão di volta. I as cuversa são tão igualzinha, qui até parece cantoria di viola. Fazeno as mesma promessa qui fizerô no passado / qui dessa vez vai dá certo/ pode ficá sossegado / eu sô padrinho dos pobre/ você é meu afilhado / só preciso do seu voto/ pra ficá tudo acertado. Diga a minha secretária, / qual é a sua precisão/ si é telha pro seu barraco/ ô si é piso pro seu chão/ si tá sem gás di cozinha/ hoje mesmo di tardinha/ mando trazê um bujão.
Mas intão. Isso é coisa dos antigamente. É qui o povo já não tão besta como é qui era antis. O pulítico chegava, deitando falação, i tinha um tá di cabo eleitorá qui ficava gritano, apoiado, muito bem!! I adispois saia distribuino camiseta, i bonè com o retrato du candidato, i repitino pra gente: Esse é o homi qui o povo tá precisano. Conhece os ypicilonis, i otros considerandus.
Daí a gente qui era besta, vistia a camiseta, i u boné... I vamos é cume churrasco, i bebê a cachaça qui o homi tava pagano.. Pro sinhô vê qui o mais ingraçado disso tudo, era qui as pessoa qui servia o churrasco,
I cachaça pra nóis, era tudo gente aparentada dus fazenderos, i dus comerciante da cidade, i qui nunca dava nem um bom dia pra pionana, pé di pueira, que era tudo pobre i desinutrido, mas qui em tempo di eleição, ficava era importante por demais.
Mas intão seu Uilson. O sinhô deve ta pensano aí cum os seus botão, qui essas coisa contunua aconteceno =, i qui nada, mudô nem um tiquinho, Né? Mas, aí qui o sinhô tá inganado...
Essas coisa continua se assucedeno. Im todo o país, mas, só tem um porém qui eu vou lhe contá pro sinhô.
Lá nos cafundó do sertão dos interiô. Os polícos continua, matandu boi, i fazeno churrasco, i encheno a cara do povo de cachaça vagabunda. Continua deitano falação, i prometeno felicidade i fartura pra todo mundo. A gente vestimo as camiseta, que é até muito boa pra trabalhá na roça, i mais o buné qui é muito bom pra protegê do sol. I a gente continua fazeno a cara di besta, i lá vai churrasco, i lá vai cachaça... Qui assas coisa a gente não somus di arrecusá.
Mas intão, o sinhô ainda não intendeu, onde é qui tá o porêm, qui eu lhe falei.
Mas intão, eu vou lhe contá pro sinhô.
È qui o povo não istá mais muito besta, como é qui era antis. A gente começô a arrepará qui nada mudava na vida dus pobres, só na vida dos ricos, pra melhô, i as custa dos pobre.
Daí intão, quando é eleição, a gente vai, cume o churrasco i bebê a cachaça, pegá as camiseta e tudo mais, i na hora di vota a gente votamus im otro canditato, qui eles não quiria, qui a gente votava. Falava qui era tudo inimigo du povo, i qui não tinha competença pra guverná, i essas coisa todas. Daí a gente pensamos: Si esses, é assim tão ruim pra eles, é qui deve sê bom pra gente.
I mais uma coisa, qui a gente demorô pra aprendê, mas, aprendeu: Angú di um dia só, não engorda cachorro..
Mas não é?