Chorar
Era apenas eu, apenas eu.
Sempre quando choro, sempre quando entristeço. Sou apenas eu.
Mário Quintana tinha razão – o pior de nossos problemas é que ninguém tema nada haver com isso.
Minhas lagrimas me visitaram. Não por que algo me incomodava. Antes de tudo, apenas para mostrar ao meu filho que homens também choram.
Mas naquele dia a vida pesou, e meus ombros de repente suportavam o mundo.
Deve ser assim morrer de imunodeficiência adquirida. Não se sabe na realidade o que esta te matando
E choramos por tudo. Por estarmos ficando velhos. Choramos por amigos perdidos. Por não termos com quem conversar.
Eu queria chorar, atirar-me de um despenhadeiro, afogar-me no seco.
Hoje, quando amanheceu, havia uma intensa neblina, e a sensação de sufocar encheu-me a alma. Mas o dia clareou mais e mais e o meu Déjà Vu de hoje dissipou-se como a neblina da manhã ao sol. Clareou um novo dia.
Então sorri, sorri para uma nova juventude em mim. Sorri para uma imagem colorida no espelho. Sorri para as boas lembranças de velhas amizades. Chego a ouvir o som das gargalhadas de pessoas que foram e são parte ativa da minha história.
De hoje em diante me recuso a ficar triste. Melancólico – esta maneira romântica de ficar triste – talvez. Mas aquela tristeza bruta e sufocante nunca mais.
Vou choras sim. Muitas e muitas vezes. Vou chorar durante um banho de chuva. Vou chorar quando novamente ver o mar. Vou chorar quando meus filhos correrem ao meu encontro. Vou chorar ao ver amigos partirem para nunca mais. Quando o amor morrer.
Vou sempre chorar, e acima de tudo, chorar de rir...