PIMENTA NO CAPPUCCINO DOS OUTROS É REFRESCO (REEDIÇÃO)
* Reeditado para publicação na página feminina do JORNAL DO JAGUAR.
Tarde cinzenta e fria de inverno, eu tomava um belo cappuccino quentinho e, com cara de paisagem, observava um grupo de homens conversando sobre as mulheres que entravam e saíam da cafeteria. Era impossível não observar. Não era necessário nem exigir muito de meus ouvidos limpinhos. Divertiam-se muito classificando as mulheres como barangas, mocréias, etc. Uma ou outra, peituda ou popozuda, merecia um gostosona.
Comecei até a suar frio de medo de levantar da cadeira. Jurei que ficaria ali quietinha por três dias, se necessário fosse, para não passar por aquilo. Cheguei lindona, não saio daqui mocréia! Mas...
Mente desocupada é oficina do diabo. E os pobres diabos estavam ali, bem perto, fazendo por merecer todos os meus pensamentos.
E, cá entre nós, homem quando mocréio é competente! Não dá colher de chá pra ninguém, é insuperável.
O que será que se passa entre as orelhas do sujeito que separa uma bem alinhada e escassa porção de cabelos e a penteia ordenadamente e cola com gel sobre o crânio já calvo, na inútil tentativa de escondê-lo? Não sei, mas boa coisa não é.
E na cabeça daqueles que coçam o preciosinho em público? E você, desajeitada e encurralada, nem sabe se olha para os olhos do camarada ou se olha pra aquilo. Sei lá, mas acho que na cabeça destes, a coisa que passa é boa. Não quero nem saber, prefiro pensar que é falta de banho.
E continuo ali querendo total invisibilidade, com cara de boba, cega, surda e, principalmente, muda, já que o silêncio é de ouro.
Diz o ditado que devo escutar mais do que falar, já que tenho dois ouvidos e uma boca. Ouso ampliar o ditado, pois também tenho duas mãos e nenhum saco para coçar, então, presumo que são para digitar.
E a fonte de inspiração está ali, pedindo...
Quem nunca viu um barango de praia usando minúsculas sunguinhas, revelando uma bela pança de cerveja e também um minúsculo e pendurado... Não sei como dizer, melhor não dizer, chega de deselegâncias por hoje. Pois bem, também não acho fashion os que ostentam um maiúsculo, mas estes, não são totalmente inúteis, têm sua utilidade cômica e lúdica.
Observe bem o cabeludo usando o trio sunguinha, meia soquete esticada nas canelas e bolsa a tiracolo. Fácil, claro, é argentino! Não vou à Argentina tão cedo, nem que o Senhor Tango convide-me para bailar.
E aquele barrigudinho de bermudão nos joelhos sempre abraçado a uma garrafa térmica? Ah! Esse é o tchê lindão! É gaúcho!
Sem protecionismo, na praia, chapéu de barbicacho não é tradicionalismo, é baranguice!
Outra variação é aquele que, já com uma ampla clareira instalada, usa cabelos longos, às vezes presos com atilhos. Deve ser a lei da compensação: falta lá, mas sobra cá. Eu diria que falta elegância cá, mas estava lá na cafeteria, como exímio classificador. E não era um Zé Ninguém, aliás, nenhum deles era. A minha maior alegria foi perceber que o rabo de cavalo e os óculos na ponta do nariz, tinham a missão inglória de dar um ar de intelectual. Não foi suficiente. Intelectualóide era o ar, perfeita combinação de intelectual com debilóide.
Falando em óculos, nem sei o que dizer dos adeptos a espalhafatosas e resplandecentes lentes irisadas e furta-cores. Bem, se portar também um anelão de rubi no dedo mínimo, pulseira e correntão de bicheiro, então, para mim, não há perdão. Eu diria: Por favor, pena de morte!
E o maduro e bem rodado usando camisa de seda estampada ou justíssima baby look e cabelinhos pintados? Não sei se há explicação lógica, mas categoricamente erram o tom e ficam semelhantes a cardeais ou anus. Coitados dos passarinhos...
Bem, se usar brinco e ainda não tiver descoberto que, tratando-se de unhas, o mínimo é o máximo, matem também! Brilho boiola nas unhas? Matem com crueldade!
E as tatoo’s? Minha mãe do céu, quando um valente dragão tatuado na adolescência vira uma inofensiva e enrugada lagartixa, torna-se justificável e até lucrativo um empréstimo emergencial em 120 prestações a fim de remover a coitadinha. Ninguém merece, nem a lagartixa, nem as mocréias ou barangas. Nem falo nas lindonas.
Pois é... Pimenta no cappuccino dos outros é refresco, não é?