Atravessando o arco - íris

 
 
 
 
 
 
Meu amigo Fernando enviou-me um e-mail que me tocou em cheio. E ainda bem que o e-mail tem autor e assim eu posso usá-lo, a meu modo, mas sem deixar de citar o seu criador inicial. Principalmente porque eu concordo totalmente com ele. O autor é George Carlin e ele trata de um assunto que incomoda a maioria das pessoas. Inclusive a mim. É sobre o envelhecimento e começa com um conselho: aprecie a viagem não há bilhete de volta. Sim, é isso que é a vida – uma viagem sem volta. Não veremos nunca mais a mesma paisagem por onde passamos, nem viveremos as mesmas emoções.
 
O e-mail é todo um convite para que permaneçamos jovens. Eu não sou idiota e nem convido ninguém a sê-lo, porque idiota seríamos se pensássemos que é possível deter a natureza. Só não vai envelhecer quem não viver o suficiente para isso. Portanto envelhecer é normal e natural, mas temos que considerar como uma benção o alcançar a velhice. Um prêmio, principalmente nesses tempos modernos onde impera a violência e o uso de drogas. Todos são fatores responsáveis por colocar vidas em riscos e a maioria das mortes ocorre entre jovens. Nem aconselharei ninguém a se esticar tanto que se torne irreconhecível em nome de uma falsa juventude. Não, o e-mail trata de qualidade de vida, da vida única que nós temos aqui. E alinhava uma série de medidas que devemos tomar para viver melhor. Algumas são sérias, outras brincalhonas, mas acho que vale a pena escrever sobre cada uma delas. Ao meu modo, é claro.
 
1-    A primeira delas é um conselho para que nos livremos de todos os números que não são essenciais – apenas eles. E quais seriam? Basicamente três: idade, peso e altura. Não é fácil – todo mundo parece querer saber isso. Os médicos principalmente – quando me medem fico horrorizada. Eu era maior, eu digo. Olha isso aí direito, por favor! Peso? Fecho os olhos quando preciso subir em uma balança. Idade? Tiro a carteira de identidade e mostro. Mas ignoro peremptoriamente. O número do manequim? Se me perguntarem isso de novo não volto nunca mais a comprar aqui. Tragam-me uma roupa que me sirva e pronto! Sem dúvida nenhuma, esse é o mais difícil de todos. Mas a gente pode tentar. Ignorar não é mentir. É só fazer de conta.

2-   A segunda concita-nos a mantermos apenas os amigos alegres. Acredito que isso não signifique que devemos abandonar os amigos quando passam por alguma dificuldade. Isso não seria amizade. Mas concordo quando sugere que não devemos cultivar a amizade daquelas pessoas que já nasceram ranzinzas, que vêm defeitos em tudo e em todos, incapazes de rirem de si próprios e que se levam muito a sério. Aqueles que já nasceram velhos e desencantados.

3-   A terceira fala sobre o conhecimento, sobre o quanto é enriquecedor para a vida continuarmos a aprender até o último suspiro. Aprender sobre qualquer coisa. Estar sempre pronto para abrir a mente para o novo. O mundo não para só porque nós achamos que chegou a hora de parar. O mundo continua, os conhecimentos se ampliam, os horizontes também. De repente a gente vê que não dá tempo mais – a gente fica tão atrasado frente aos avanços científicos e tecnológicos porque chegou à conclusão que não precisa aprender mais, que acaba se transformando em uma peça de museu.

4-   Rir também é uma ótima medida para se manter jovem. Ria de tudo e de todos principalmente de si mesmo. Apesar da minha alergia (quando rio, perco o ar e quase me sufoco) eu adoro rir e rio de mim também. Hoje por exemplo, saindo para um aniversário, quando preferia ficar em casa por causa do frio horroroso, vesti um casaco que só visto uma vez na vida e outra na morte, metendo as mãos nos bolsos, o que achei? Os documentos de meu carro que perdi ano passado. Para vendê-lo tive que tirar outro. O que é que eu podia fazer se não rir? Chorar?

5-    Mas chore também porque não somos bobos alegres. Muitas vezes precisamos chorar e devemos chorar. Perdemos coisas, perdemos pessoas, sofremos injustiças, somos criticados sem razão, não compreendemos nossos fracassos, ficamos doentes, sem dinheiro, sofremos decepções. Isso é vida e precisamos viver todas as facetas com que a vida se apresenta, boas ou más. O importante é depois do choro, enxugar as lágrimas e continuar a caminhada.

6-    Viva junto das pessoas a quem ama. Cerque-se delas sejam elas quais forem.  Família, amigos, amores e mais ainda, amplie esse amor para bicho e plantas, livros e filmes, coleções (atualmente eu coleciono girafas - e digo atualmente porque estou sempre colecionando alguma coisa) e tudo o que for digno de ser amado e proclame esse amor, diga a quem pode ouvir: eu gosto de você. Não guarde o amor preso dentro do coração. (Apesar de que, se decidir conversar com as pedras, ou com seus bichinhos de pelúcia, faça isso sem ninguém ver)

7-    Cuide-se. Cuide de sua saúde física e mental. Vista-se confortavelmente. Cuide de suas coisas mas não se apegue a elas como se fosse impossível viver sem elas. Faça de sua casa um lugar agradável de viver, seja ela uma mansão ou uma mansinha, um quarto alugado ou um quarto de hotel.

8-    Bem, o tal e-mail traz ainda uma frase que para mim é de tirar o fôlego: A vida não é medida pela quantidade de vezes que respiramos, mas pelos momentos que nos tiram a respiração.
 
Sinceramente, ao escrever este texto não quero passar a imagem de que minha vida é o tempo todo uma alegria só e que eu sou uma alienada. Sou não e minha vida é igual à de qualquer pessoa. Não sou Pollyanna. Não sou cega nem surda e nem muda. Não posso fingir que não existem coisas horríveis me cercando. Não posso ignorar meus problemas pessoais, familiares e profissionais. Não posso ignorar que o caminho da vida, aparentemente só tem um fim: a morte dessa que sou eu. Mas aprendi e gostaria que todos aprendessem: vale à pena viver desde que estejamos sempre buscando alguma coisa. Mesmo que seja encontrar o arco-íris no fim da estrada e passar sobre ele para encontrar o tesouro prometido.   
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


 
 
 
 
 

 
 
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