DEIXE-ME SER COMO SOU...
Era uma vez, um menino nascido na zona rural de uma região agrícola, que tinha um grande sonho: ser um cientista pesquisador de insetos. Desde muito pequeno, uma de suas preocupações diárias era pesquisar insetos, principalmente borboletas e gafanhotos.

Como acontece com todo cientista que para conseguir realizar o seu intento tem de se esforçar bastante, todos os dias quando ele voltava da escola, ficava horas a fio, observando os movimentos desses dois insetos e quando menos se esperava de suas atitudes lá estava ele com alguns deles em suas mãos.

No entender dele, dentre os insetos de sua preferência, a borboleta era o mais bonito, mas sentia que ela era bem mais frágil que o gafanhoto, por isso carecia de um pouco mais de carinho e cuidado no momento em que ela era apanhada.

Esse pequeno pesquisador, além dos seus afazeres escolares, não sabia fazer outra coisa com tanto desempenho senão caçar borboletas e gafanhotos e por isso seus pais chamavam-no de menino preguiçoso.

Os pais dele deviam ter lá suas razões, pois apesar de seu filho gostar de estudar e ser uma criança muito interessada na realização dos seus deveres escolares ele gastava a outra parte ociosa do seu tempo na observação diária desses animais e, certamente, não era essa a vida que eles queriam para os demais filhos.

O tempo foi passando e por maior que fosse o incentivo daqueles pais no sentido de encaminhar aquele filho para a execução de outra atividade voltada para a lida do campo, o menino demonstrava, de forma clara, pouco desempenho quando de sua atuação noutras atividades, principalmente naquelas que envolviam a plantação e colheita de cereais.

- Esse garoto não tem jeito mesmo para o trabalho braçal – sussurrava o pai dele.

Noutras ocasiões era a mãe dele que contra-atacava:

- Por que será que esse garoto passa parte do seu tempo fazendo papel de observador de insetos? Isso não é normal.

Será que eu deverei deixá-lo de lado ou castigá-lo fisicamente para que ele entenda que o lugar certo dele é trabalhando ao lado do pai dele? Onde já se viu uma coisa dessas? – esbravejava.

O filho, por sua vez, apesar de muito jovem, tinha pleno conhecimento dessa constante indiferença demonstrada por seus pais em relação ao seu modo excêntrico de viver e, de vez em quando, lhe batia alguns instantes de tristeza, capazes de provocar no íntimo do seu pequeno ser, alguns questionamentos:

- Por que será que eu devo agir de acordo com as vontades deles?

- O que há de estranho nas minhas atitudes? Eu sou um garoto que estuda e que faz os deveres escolares e os afazeres do dia-a-dia de minha casa...

- Será que neste mundo das pessoas adultas não há espaço para um garoto que tem o sonho de ser um cientista pesquisador de insetos?

O tempo continuou passando no seu compasso natural e o comportamento daqueles pais em relação à atitude daquele filho que desejava ser um cientista pesquisador de insetos continuava sendo de uma incompatibilidade incomum, de onde se pode concluir, ainda que de forma precoce, que aquele filho que não segue à risca as orientações dos seus pais tende a ter poucas chances de ser aceito de forma plena no seio de sua família, podendo até ser rejeitado.

- É provável que esteja havendo um exagero de atitudes de ambos os lados – criticava um dos vizinhos.

Afirmava ele que de um lado havia um apego excessivo do garoto na pesquisa diária de insetos e do outro lado uma “marcação cerrada” por parte dos pais para tentar impedi-lo de desenvolver o seu “trabalho”.

Ele devia ter seus motivos para essa preocupação. Mas seja lá o que for que esteja ocorrendo de estranho no seio dessa família, esse episódio hipotético tem o intuito de colocar em discussão um tema que tem sido o alvo de muito debate no seio das famílias de antanho e das atuais:

- Os pais devem ou não devem definir de forma impositiva a carreira a ser seguida pelos seus filhos?

- Ou entre outras responsabilidades na sua nobre missão de educadores, eles deverão apenas incentivar e monitorar os passos e compassos das carreiras e caminhos que os seus filhos desejam seguir?

Na qualidade de pai e de educador, o que você anda fazendo nesse sentido?