Quem é irracional?
Lá vai o cavalo. Velho, magro, ossudo, cheio de feridas nas pernas cansadas. Está com fome e com sede e puxa a carroça pesada, cheia de sucata, pobre animal! O humano vai lá, sentado na boléia com o rebengue nas mãos, e de vez em quando o faz estalar no lombo do animal, que esforça-se mais, peleja tentando subir a ladeira íncreme, pois não tem escolha, se não subir, apanha mais ainda. A idade pesa, está doente, mas ninguém se importa, cavalos não tem direitos, nem aposentadoria. Se pudesse falar contaria suas dores, seus sonhos. Sonhos lindos! A noite na sua pequena baia solitária ele sonha que está com seus amigos, bem longe em verdes prados cortados por riachinhos de águas transparentes. Sonha que é jovem, forte e não há humanos por perto, parece o céu, mas ao acordar na sua triste baia depara-se com a dura realidade, lá vem o humano com as tralhas da carroça para martiriza-lo mais um dia e não há outro remédio senão obedecer. Pobres humanos irracionais que não conseguem ver num animal, um ser vivo que merece respeito!