O Amigo Fiel
 
Durante a infância dos nossos filhos, todo sábado era dia de almoçar na "vó Edy", minha sogra.
 
Por ser o neto caçula, o Diogo tinha alguns privilégios que as outras netas não alcançaram. Um deles – que me incomodava bastante – era o direito de, aos 4 anos, sentar-se no chão com um telefone de mesa, daqueles largos, cheios de grandes teclas quadradas e ficar teclando e falando "de mentirinha", por vários minutos, sem que a avó se zangasse.
 
Eu sempre dizia, em tom ameaçador: -"Ó, D. Edy, esse menino tecla tantos dígitos seguidos que qualquer hora ele faz uma ligação lá prá Alemanha! E a senhora só vai perceber na hora em que chegar a conta.
 
Até que um dia, depois de muito teclar e falar, ele pareceu estar falando de verdade. Era uma conversa mais consistente, com perguntas e respostas. Curiosa perguntei: -"Com quem você estava falando, filho?"
 
-"Com meu amigo, o Carlos".
 
Dando corda prá fantasia, continuei: -"E quem é o Carlos?"
 
-"É o meu amigo da Lista Telefônica. Eu ligo pra ele todo sábado".
 
Para minha surpresa, o Diogo pegou a Lista Telefônica e me trouxe, mostrando na capa de trás o anúncio da HIGITEC, com um grande número telefônico que pegava a página de lado a lado. Era o número pra onde ele ligava toda semana.
 
E o Carlos era o vigia da Higitec, de plantão nos sábados à tarde, e que atendia ao telefone!
Talita Ribeiro
Enviado por Talita Ribeiro em 06/06/2010
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