SUZY 3
Quando Suzy emprenhou, a minha segunda filha já ia com a barriga crescida. Ficaram as duas mais unidas do que antes, pela condição materna. Preocupação era o que não me faltava. Entre os filhos só festa, brincadeiras. E Suzy cativando, a cada dia mais bonita com aquele pelo branco e brilhoso. Chamava a atenção por onde passava. Todo mundo orgulhoso.
Se estava fazendo algum trabalho no computador, Suzy deitada aos meus pés. Olhava enviesado para ela. Lindinha, pensava. No mesmo instante, chata, insuportável. Saia daqui que não gosto de gente no meu pé, imagine você. Fechava os olhos fingindo não entender. Ali ficava. Se dormia um pouco na rede, ela deitava debaixo quietinha. Parecia dizer “não incomodo você”. Se tomava um vinho, ela observando. Se me mudava para a cama, me seguia. Às vezes eu sorria, achando interessante. Outras vezes dizia ”Vou meter você no chuveiro, para o banho, vamos”. Corria e se enfiava sob a cama de um dos meus filhos. Poodles não gostam muito de banhos.
Quando eu voltava do trabalho, estava na janela de olho duro na estrada. Os de casa diziam: mãe já vem, Suzy está na janela. O rabinho cortado balançando. Aquela entrega, aquele amor começaram a me arrepiar. Testei indo até a porta do apartamento, ela ia. Para a cozinha, ia. Para o quarto, sim. Pra o banheiro, jamais. Fazia cara de choro quando eu saía para uma noitada. E ficava esperando até as quatro ou mais da manhã. Meu Deus, que chato! Se fosse um homem, eu já teria mandado embora.
Direto para a maternidade, neto chegando, o segundo. Que aflição, a maior de todas. Pensar minha filha naquela maca fria e terrível, só faltei morrer. Chega o neto, a coisa mais linda do mundo que é pra gente se esquecer do sofrimento. O maior reboliço. Ai, que lindo! O nome? Eduardo. Visitas convenientes e inconvenientes. Cuidados, fraldas, noites perdidas. E o olho em Suzy. Daí por diante, ela não parava, seguia todos da casa.
Suzyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyy! Suzyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyy! Cadê Suzyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyy?
Lá me vou pelo apartamento e já pensava que ela havia sumido, fugido, pois já vi bicho ciumento, mas igual a cachorro não tem. Passei muitas noites sem dormir pensando, assustada, que um cachorrão de quase 80 quilos avançaria contra a minha filha mais velha, quando ficava pra dormir na casa do namorado.
Suzyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyy, ai Deus, cadê Suzy? Mãe é bicho desconfiado, veio a certeza. Direto para o quarto onde estava o netinho.
Desgraçadaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Miserávellllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll. Sonsaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Pesteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee ! Vou matar você é agoraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Saia já daí Saiaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Estava aboletada na cama de casal junto ao menino. Jesus! Eu fiquei cega pensando que o morderia, logo ela que jamais amolou os dentes em pessoas. Só em sapatos, sofás, lençois e até livros.
Saiu feito uma bala e de focinho baixo, olhos tristes. Estava era apaixonada pelo menino, treinando o maternal para os filhotes que faziam crescer a sua barriga. Mas não tomou jeito, era a gente se distrair, lá estava Suzy sobre a cama, encostadinha a Eduardo como se fosse a coisa mais preciosa deste universo.
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