CRÔNICA PARA UM NOVO VELHO AMIGO
Um novo velho amigo entrou na minha vida. Desses amigos que só precisamos bater o olho uma vez para saber que uma história verdadeira vai acontecer. É sempre assim comigo: escolho meus amigos (ou serão eles que me escolhem?) pelos olhos. Através deles posso entender as suas necessidades, suas angústias, seus sonhos, sua verdade. Nunca me arrependi de ter me tornado amiga de alguém em quem confiei na primeira impressão do seu olhar. As pessoas podem falar, gesticular e até gritar o que quiserem, mas seus olhos vão sempre me mostrar seu verdadeiro ser.
E assim, escolhendo meus amigos pela pupila, como disse um amigo meu, sempre me entreguei às pessoas que puderam compartilhar comigo seus sentimentos de alegria, de tristeza, de lamento, de contentamento. Sempre sou ouvida e sempre escuto. Sem isso a vida não funciona direito, pois fica faltando o essencial.
Um novo velho amigo, desses que se revelou para mim através dos seus olhos, apareceu na minha vida. Se encaramos o tempo com um olhar material, ele é um novo amigo, mas, se enxergamos o tempo com uma visão espiritual, ele é um doce e belo velho amigo, que conheço à séculos. As coisas aconteceram muito rápido, posso dizer que rápido como a luz, pois foi isso que este amigo fez comigo: iluminou a minha vida e de uma forma tão profunda que não posso deixar de pensar em outras vidas. Muitas coincidências, que prefiro chamar de sincronicidades, ocorreram para que nos conhecêssemos e assim se estabeleceu uma linda amizade que distância nenhuma jamais fará com que eu me esqueça e que tenho a mais profunda gratidão de recebê-la.
Um lindo amigo, que tem o seu mundo pessoal resguardado, mas que soube ver também em meus olhos a verdade de meus sentimentos e permitiu, docemente, que eu pudesse, aos poucos, participar de sua vida. Que me mostrou a beleza das coisas mais simples, a verdadeira beleza. Um amigo para quem posso falar minhas mais profundas emoções e saber que não serei julgada.
Mesmo sabendo que a distância não vai afetar nosso relacionamento, pois amizade assim não se esquece, é difícil a gente se separar. Minha vida vai tomar um rumo diferente, e irei para outro lugar. Meu amigo vai ficar e eu vou partir. Devo ir. Sei que serei feliz para onde vou, mas deixar as coisas aqui vai ser muito difícil. A dificuldade não é partir, mas deixar as coisas que fazem parte profundamente de minha vida agora. Mas já disse o poeta, “mesmo que o tempo e a distância digam não, mesmo esquecendo a canção, o que importa é ouvir, a voz que vem do coração” e esta voz é a que realmente vale a pena ouvir.
Não tenho vergonha de falar sobre meus sentimentos. Já tive muita, e não fui feliz com esta escolha. A vida é feita de escolhas e é assim, sendo verdadeira, que eu escolho viver. O que sinto por este meu novo velho amigo não pode ser definido como nada menos do que amor. Mas um amor daqueles que devemos sentir por todos, puro, sem julgamentos e sem cobranças, que damos sem esperar nada em troca, que não precisamos perdoar porque não nos sentimos ofendidos.
Por ter amigos assim, mesmo que seja apenas um em toda a sua existência atual aqui na Terra, devemos agradecer sempre, pois se um amigo assim entrou em sua vida, é um momento divino.
Vou partir e vou ver outras coisas, um novo velho sol vai me aquecer em um novo velho amanhecer. Vou encontrar novos velhos amores, novas velhas histórias, novas velhas cidades e talvez novos velhos amigos, mas ninguém vai ocupar o espaço que é só dele aqui em mim, até que nós tenhamos o merecimento de não precisarmos mais nos encontrar assim, de tempos em tempos, de vidas em vidas, e nos tornemos velhos velhos amigos.