AS LASCAS

Nos idos de 1950, havia numa pequena cidade do interior mineiro um jovem senhor, que tinha um jipe para fazer fretes.

Todos os dias, quando encerrava o expediente, Newton guardava seu veículo no quintal da casa de seus pais.

Naquela época, as residências eram cercadas com lascas de braúna, por ser uma madeira resistente.

Mesmo sem calçamento nas ruas, a cidade tinha meio-fio e, para passar com o carro, o motorista precisava colocar um pedaço de pau.

Certo dia, ao dar falta do calço, ele murmurou:

-Êta, meu Deus! Mais uma vez, pegaram a minha lasca de braúna!

E, novamente, o homem foi ao fundo do quintal, apanhou outra, no monte, pôs no chão e foi trabalhar, pensando:

-Quem será que está roubando as minhas madeiras? Hoje eu não durmo enquanto não desvendar esse mistério.

O trabalhador ficou na espreita e, tarde da noite, pegou seu vizinho no flagrante.

O sangue subiu-lhe à cabeça e ele agarrou o velhinho pela camisa, esbravejando:

-Quer dizer, então, que o senhor é o ladrão de lascas!

-Assim dizem.