O que viram os sonhos quando morrem?

Dizem que quando as crianças , quando morrem, viram anjos...

Então, depois de anos na solidão, resolves encontrar-te com a pessoa que habitou teus sonhos e teus dias sem nem perceber. Marcam de se encontrar num banco, de frente pro mar: um luga desconhecido pra ti e pra ela.

Chegas quinze minutos antes e , com todo teu discurso na cabeça, é como se ela não tivesse se atrasado como sempre fazia.E ela ja se atrasou alguma vez? por um acaso, num era ela que sempre chegava nos parques, nos luares, nos cinemas e nos teus cinco miutos antes de dormir? alguem que nunca se foi de verdade nunca esta atrasada em chegar...pelo contrario, agradeça, dessa vez ela não virá envolta em escuras nuvens de lembranças, você poderá, depois de anos, abraça-la.

"oi?". teu coração pula, teus olhos cegam, tua cabeça gira por teimosia para não fugir mais uma vez. Isso mesmo, é ela que está ali de frente a você.

Todo teu discurso vai embora, tuas mãos chegam até a tremer um pouco.É ela!Voce tinha todo um texto que fala de saudade e lembras de todos os segundos desde que ela partiu, mas não sabes dizer " oi".

Pelo contrario, sorris e dizes uma brincadeira enquanto Tom Jobim te fala ao pé do ouvido :" é descocertante rever um grande amor". A abraças e, na hora que teus braços se abrem para envolver-la no abraço que desejavas tanto mas que agora estais tremendo de medo, todo teu teu discurso escorre, letra por letra pelos dedos, esvaindo-se ao vento: Aquele texto todo era para alguem que nao existia, não para alguem que abraça.

e vais conversar com ela por horas; vais tremer, vais sentir vontade de falar tudo oque escondeste dela mas falaste a qualquer um que sentava contigo numa mesa de bar. "Não, não esconda nada!" vais repetir pra ti mesmo enquanto ela fala das novidades da nova universidade.

" Não diga nada, ela vai dizer que não dá certo outra vez" vais alertarte contra o elefante que brinca, rodando, na loja de cristais de tuas esperanças. " olhe pra ela, somente olhe pra ela" é a unica pensarás e terás a coragem de fazer.

Ela mudou mutio, afinal, fazem quantos anos que a viste pela ultima vez? mas pare e veja que voce mudou: um " eu te amo" saia com toda propriedade, quase quantica, da palavra...e hoje estais aqui sem nem saber por que. Vês como ela mudou?vê como mudaste?somente conversem, talvez saiam menos feridos.

O anoitecer vem chegando e o violeta que brota por cima da cabeça dela te traz aquela sensação de quem devia estar mais feliz, e agora?

agora continuem conversando, não há mais nada a fazer do que isso. Amaste e foiste amado loucamente, largarias tudo para viver como garçom numa taberna qualquer, mas ficaias feliz de voltar pra casa e ela estar lá, de sentir amor pela saudade que ela deixou somente enquanto foi passar o fim-de-semana na casa dos pais...nos teus sonhos, esperá-la era um ritual ao deus do amor, hoje ela está do teu lado mas parece que nunca mais voltou.Agora, nesse exato momento, quem era ela? ela, a protagonista dos teus planos de " viver feliz para sempre"; ela, a que te acordava, em teus pobres pensamentos, toda manha...ela...ah, ela! Ela! onde está ela agora?se parece com essa que esta do teu lado segurando os cabelos para o vento não os despentear? é esta a que sonhavas todos os dias comprando pão naquela padaria de koreanos?

Agora não sabes para onde aquela que sonhavas foi, não sabes se ela se perdeu em alguma rua de um centro historico, não sabe se ficou em algum cinema ou se ela ficou te esperando no aeroporto para quando voltares.

E ai que te perguntas, como eu me pergunto, tentando, nessas palavras encontrar a resposta para a pergunta que me aflige: dizem que as crianças, quando morrem, viram anjos...me diz: Para onde ela, a minha florzinha, a que me esperava em casa, ainda que em meus sonhos,a que era a mulher de minha vida, se foi?

Balthazar Sete sóis
Enviado por Balthazar Sete sóis em 11/05/2010
Reeditado em 16/05/2010
Código do texto: T2249727
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.