MÂE: FELIZMENTE EU TENHO A MINHA
Por Carlos Sena
Felizmente eu tenho a minha. Menos serelepe, meio fraca da memória, comprimidos de todas as cores pela manhã, à tarde e à noite, sangue doce (é diabética). Seu rosto é outro sem deixar de ser o mesmo: o mesmo olhar, embora seus olhos estejam envoltos em "dobrinhas"; o mesmo riso, embora já sem força no gargalhar; a face é a mesma que o tempo se encarregou de não "passa a ferro", talvez para não nos privar de ler seus ensinamentos; sua voz é a mesma, num tom mais brando, mas cheia de sabedoria pra nos falar (para se dizer verdades não precisa gritar!); as mãos são as mesmas, apenas mais frágeis no gesto de afagar. Mãos decididas no enlace do terço: quando a noite chega, de joelhos, nos recomenda a Nossa Senhora.
Felizmente eu tenho a minha. Lenta no caminhar, parece não ter mais pressa com a vida, como que a nos alertar para a paciência, a calma e a transitoriedade do existir. Logo cedinho se deita e mais cedo ainda está de pé. Às vezes nos dá a impressão de que pra ela somos todos crianças. Dos filhos, somos nove. Mas poderíamos ser dez, cem, mil. Costuma dizer que "uma mãe é pra cem filhos, mas cem filhos não são para uma mãe".
Mário Quintana, num belo poema, paraleliza esta palavra de três letras. De um lado, MÃE; do outro, CÉU. Acrescento VÉU. Pela esperança de que um dia possamos reunir sob a abóbada azul, a Mãe, o Céu e o Véu que envolve quem nasceu com vocação para ser santa.
Felizmente eu tenho a minha. Se alguém já não dispõe neste "plano", mas foi inteiro em sua companhia, certamente não se sente só... Ela supre, pois que às mães é dado o poder do encantamento. De onde elas estiverem, seus filhos são protegidos e guiados por espíritos de luz.
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