Óculos
(Foto- Meus óculos//MOAMelo)
Óculos escuros, pouco uso, mas os tenho. Tenho mais do que preciso o que é um esperdício. Em dois deles coloquei grau, mesmo assim prefiro ver tudo claro, seja noite ou seja dia. Uso-os para dirigir contra o sol ou no alto da cabeça, segurando os cabelos. É aí que sempre os encontro quando os procuro.É daí que também desaparecem sem mais nem menos, mas não são só eles que desaparecem, outras coisas também. Sou de tudo perder, com os óculos não seria diferente. Dizem até que, se os usasse mais, no local adequado que por acaso é na frente dos olhos e não no alto da cabeça eu os perderia menos assim como também perderia menos as outras coisas. Chaves. Telefones celulares, geralmente desligados, o que dificulta serem encontrados, carteiras, documentos, bolsas e as vezes até o carro.
Eu tinha um par de óculos muito bonitos. Gostava dele. Eram elegantes e eu os usava sempre, no alto da cabeça. Um dia eu estava em um evento na Praça quando alguém veio me cumprimentar. Um abraço, beijinhos e lá se vão meus óculos. Só que nem notei. Quando voltei para casa, ainda na rua, pra lá de satisfeita, passei a mão nos cabelos.... Puxa!!! Onde estarão meus óculos? Voltei correndo, anunciei pelo microfone (há sempre música na Praça aos domingos) mas nada...desconsolada fui para casa tendo a certeza de que nunca mais veri meus óculos .Caros. Um dia, quando? Dois, três meses passados, Michele, professora de dança, voluntária na Associação Conquista de Pessoas com Deficiência, encontrando-se com meu irmão, disse: pergunte a Maria Olímpia se ela não perdeu seus óculos escuros, com grau. Eu os achei logo depois de tê-la abraçado na Praça. E aí eles voltaram para mim... e eu não mais tinha, continuo tendo um par de óculos muito bonitos. Por isso não me desespero com nada que perco. Perdi um recibo de IPTU...estava socadinho em uma bolsinha dentro da bolsa. Perdi as chaves da porta...estavam debaixo da cama. Perdi isso perdi aquilo. Achei um dia, mais tarde. Sem nenhum desespero.Até uma carteira com dinheiro foi achada um ano depois dentro de um sofá cama.
Mas sei quando as perdas são irreversíveis. Perdi dois pares de sapatos que deixei na cabine de um navio ( A frasqueira consegui recuperar). Minha nécessaire ficou em Paris. Deixei uma bolsa no metrô em São Paulo e outra na Rua São Paulo em Belo Horizonte (Mas essas foram roubadas) e perdi meus óculos ao atravessar a Rua Santana para conversar com um músico do outro lado da rua. Mas esses óculos! Valeu a pena perdê-los. Fui ao oculista e comprei outro no dia seguinte – os meus lindos e inseparáveis óculos de armação branca, os quais morro de medo de perder. Já pensei até em ir à ótica e comprar várias armações para não ficar tão preocupada em perdê-los, tanto eu gosto deles.
Estou aqui pensando: que coisa mais sem graça escrever sobre óculos e coisas perdidas! Principalmente sobre óculos, que nunca sei se tenho que fazer a concordância no plural ou no singular. Óculos são como gêmeos siameses. Não existem sozinhos. Sozinho é monóculo. Então eu tenho um óculos. Ou uns óculos. Algo que é um só, mas ao mesmo tempo são dois. E binóculo? É um só, mas tem dois óculos. Se forem binóculos serão mais de um. No mínimo quatro óculos. Só tenho uma solução para tanta inquietação. Aceito urgente um revisor da Língua Portuguesa. Tenho dois dos bons no rol de minhas amizades. Duas Marias. A Iaci e a Neusa. Ou seria duas Maria? Essa última flor do Lácio inculta e bela dá nó no cérebro de qualquer um.
(Foto- Meus óculos//MOAMelo)