Chata, eu?
Faço terapia de grupo há muitos anos e só eu sei como essa atividade transformou minha vida, para melhor. O grupo já foi maior, éramos três amigas que crescemos juntas, interiormente, de uma forma claramente visível. Hoje, somos duas, em sessões semanais, mas não muito regulares, o que nos leva a ficarmos por vezes, um bom tempo sem as sessões. Mas quando acontece, sinto falta delas. Criamos o hábito de falar realmente sobre as coisas que nos incomodam e de dizer uma a outra, sob a supervisão da nossa terapeuta, o que é preciso ser dito. S., a terapeuta, nos diz sempre que é preciso observar a linguagem do corpo frente a qualquer situação porque o corpo não mente. Ela pergunta- o que seu corpo está sentindo, o que ele está lhe dizendo? Aprendi porque vi que é verdadeiro, quando a gente não camufla a verdade, quando não tentamos escondê-la de nós mesmos. O desconforto ou o conforto que sentimos, se paramos para analisá-lo é uma ferramenta poderosa para o autoconhecimento.
Todo esse preâmbulo vem a propósito da seguinte situação – descobri que um de meus mais simpáticos leitores aqui do Recanto me acha uma grande chata, e chatos são também os meus textos. Lembrei-me de uma historinha que minha tia sempre conta: diz ela que um dia, estando em nossa casa com minha mãe, uma de minhas irmãzinhas passa por elas ao sair e minha mãe diz: Mas que roupa mais feia, Márcia. E que ela então respondeu: Ah, mãe! E eu que pensei que estava tão bonitinha! Pois é, foi o meu primeiro pensamento – e eu que pensei que estava agradando! Resolvi então dar uma parada e pensar no que meu corpo estava me dizendo. E ele dizia que estava muito desconfortável, ninguém, por mais que afirme o contrário, gosta de ser criticado de forma tão... chata. Mas por que isso deveria me importar, a mim que sempre digo que depois que o autor escreve o texto passa a pertencer a quem o lê? E será que eu acreditava que era uma unanimidade, eu que sempre afirmo que isso é impossível, inclusive acreditando na máxima rodrigueana de que toda unanimidade é burra?
Levei um bom tempo pensando no assunto, mais do que eu queria, mais do que ele merecia, mas gosto de encontrar respostas para certas questões. Depois que encontro, deixo-as de lado e não penso mais nelas. O que foi que realmente me chateou – foi o cara me achar chata ou aos meus textos? Mas por quê? Ou teria sido outra coisa? Precisava descobrir.
Não são todos os escritores que leio (o que seria fisicamente impossível) e nem são todos os escritores que gosto do que escrevem – mas há uma coisa que nunca fiz, visitar alguém só por visitar, para ler coisas que não gosto de ler. Quando visito retribuo visitas. Quando visito entro em contato com pessoas a quem aprendi a querer bem. Quanto visito leio textos de pessoas que escrevem muito bem e com quem sempre aprendo alguma coisa. E quando comento, tento ser o mais sincera possível. Nem sempre o comentário é uma crítica literária, na maioria das vezes é um carinho. Mas de forma nenhuma perco tempo lendo gente chata e que escreve chatamente. E foi isso que realmente me deixou desconsolada – alguém me lê, ou finge que me lê, apenas para que eu retorne a visita e o elogie. Mas vá ser besta assim em outra dimensão... Que importância pode ter para mim a opinião de alguém de quem não gosto nem dou valor ao que faz? Para mim, nenhuma. Mas essa pessoa precisa tanto de elogio que sai por aí a elogiar o que não acha elogiável? Veja, quando me elogiam, acredito, porque me tomo como medida – mas, qual seria a medida dele? Quem pode lhe garantir que todos os elogios que recebe são verdadeiros se os que ele faz não o são?
Bom, essa semana, não tivemos terapia. Tive que utilizar a minha escrita para tirar do meu corpo o desconforto. Espero que não tenha aborrecido muito você que está me lendo agora. ( A menos que você seja ele). Mas meu corpo está leve como uma pluma, pronto para voar para a minha cama e dormir o sono dos justos.
Faço terapia de grupo há muitos anos e só eu sei como essa atividade transformou minha vida, para melhor. O grupo já foi maior, éramos três amigas que crescemos juntas, interiormente, de uma forma claramente visível. Hoje, somos duas, em sessões semanais, mas não muito regulares, o que nos leva a ficarmos por vezes, um bom tempo sem as sessões. Mas quando acontece, sinto falta delas. Criamos o hábito de falar realmente sobre as coisas que nos incomodam e de dizer uma a outra, sob a supervisão da nossa terapeuta, o que é preciso ser dito. S., a terapeuta, nos diz sempre que é preciso observar a linguagem do corpo frente a qualquer situação porque o corpo não mente. Ela pergunta- o que seu corpo está sentindo, o que ele está lhe dizendo? Aprendi porque vi que é verdadeiro, quando a gente não camufla a verdade, quando não tentamos escondê-la de nós mesmos. O desconforto ou o conforto que sentimos, se paramos para analisá-lo é uma ferramenta poderosa para o autoconhecimento.
Todo esse preâmbulo vem a propósito da seguinte situação – descobri que um de meus mais simpáticos leitores aqui do Recanto me acha uma grande chata, e chatos são também os meus textos. Lembrei-me de uma historinha que minha tia sempre conta: diz ela que um dia, estando em nossa casa com minha mãe, uma de minhas irmãzinhas passa por elas ao sair e minha mãe diz: Mas que roupa mais feia, Márcia. E que ela então respondeu: Ah, mãe! E eu que pensei que estava tão bonitinha! Pois é, foi o meu primeiro pensamento – e eu que pensei que estava agradando! Resolvi então dar uma parada e pensar no que meu corpo estava me dizendo. E ele dizia que estava muito desconfortável, ninguém, por mais que afirme o contrário, gosta de ser criticado de forma tão... chata. Mas por que isso deveria me importar, a mim que sempre digo que depois que o autor escreve o texto passa a pertencer a quem o lê? E será que eu acreditava que era uma unanimidade, eu que sempre afirmo que isso é impossível, inclusive acreditando na máxima rodrigueana de que toda unanimidade é burra?
Levei um bom tempo pensando no assunto, mais do que eu queria, mais do que ele merecia, mas gosto de encontrar respostas para certas questões. Depois que encontro, deixo-as de lado e não penso mais nelas. O que foi que realmente me chateou – foi o cara me achar chata ou aos meus textos? Mas por quê? Ou teria sido outra coisa? Precisava descobrir.
Não são todos os escritores que leio (o que seria fisicamente impossível) e nem são todos os escritores que gosto do que escrevem – mas há uma coisa que nunca fiz, visitar alguém só por visitar, para ler coisas que não gosto de ler. Quando visito retribuo visitas. Quando visito entro em contato com pessoas a quem aprendi a querer bem. Quanto visito leio textos de pessoas que escrevem muito bem e com quem sempre aprendo alguma coisa. E quando comento, tento ser o mais sincera possível. Nem sempre o comentário é uma crítica literária, na maioria das vezes é um carinho. Mas de forma nenhuma perco tempo lendo gente chata e que escreve chatamente. E foi isso que realmente me deixou desconsolada – alguém me lê, ou finge que me lê, apenas para que eu retorne a visita e o elogie. Mas vá ser besta assim em outra dimensão... Que importância pode ter para mim a opinião de alguém de quem não gosto nem dou valor ao que faz? Para mim, nenhuma. Mas essa pessoa precisa tanto de elogio que sai por aí a elogiar o que não acha elogiável? Veja, quando me elogiam, acredito, porque me tomo como medida – mas, qual seria a medida dele? Quem pode lhe garantir que todos os elogios que recebe são verdadeiros se os que ele faz não o são?
Bom, essa semana, não tivemos terapia. Tive que utilizar a minha escrita para tirar do meu corpo o desconforto. Espero que não tenha aborrecido muito você que está me lendo agora. ( A menos que você seja ele). Mas meu corpo está leve como uma pluma, pronto para voar para a minha cama e dormir o sono dos justos.