O Clamor da Terra

Quando ouvi certo dia, “Produza a Terra Erva Verde que dê semente, Árvore Frutífera que de fruto segundo a sua espécie” contemplei com alegria esta beleza infinita.

Quando ouvi novamente o Criador a dizer: “Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus” minha alegria aumentou ainda mais. E como se não bastasse ele ainda ordenou: “Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado, e répteis e feras da terra conforme a sua espécie” fiquei realmente encantada com toda esta beleza.

E quando eu já pensava estar tudo consumado então ele disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra” e tirando de mim mesma o pó te fez formoso como o Criador.

Senti que realmente teria alguém que me amaria, e prometi com todas as minhas forças fazê-lo o ser mais feliz em mim, porque contemplei sua forma, pois de mim mesma foi tirado e feito para lembrarmos-nos do Criador quando contemplarmos sua face.

E assim tivemos enormes alegrias, produzindo com todo vigor, tudo o que a nós foi ordenado para a satisfação e beneficio do nosso irmão: o Homem.

Demos a eles a riqueza, o ar, o mais puro que conseguimos, saciamos vossa sede e contemplamos a multiplicação da sua descendência, nos rodeando e povoando, enchendo-nos com nossos irmãos.

Fomos ligados pelo nosso pó, sentimos suas dores e recebemos vossos entes queridos e também as vossas lágrimas.

Mas com o passar dos tempos notamos certa indiferença por nós, eu diria até um desprezo real e já não há mais aquele carinho, pois já estamos atrapalhando o vosso desenvolvimento. Ainda temos bastante vigor, mas vemos em vossos rostos um ar de ira, uma cegueira vos ocultou nossa beleza e tudo o que temos de bom. Onde está o sentimento que nos uniu naquele dia? O que vale mais do que a vida que ganhamos do Criador? Somos parte de vós e precisamos de carinho, mas o que é mais triste, é que não somos mais ouvidos. A ganância pelo poder te transformou em destruidor, e nos devasta sem sentir dor, e apenas podemos gemer, e tentar através da força de nosso ser, fazer alguém se doer, e transmitir a nossa dor, o nosso doído clamor, te pedindo que se lembres, que quando seu corpo em nós tombar, nada mais poderá fazer, e quando o Criador te questionar, sobre como nos fez sofrer, o que tu poderás dizer?

Pelo amor da nossa existência, deixe-nos viver, para que ainda consigamos ser o sustento para o vosso ser.

Zero Berto
Enviado por Zero Berto em 04/05/2010
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