Erickson Muhamed, Zifirino ou Zé?

Depois do tombo de bicicleta, em que o pé de vela lhe rasgou parte da coxa, obrigando duas dezenas de pontos, Erickson resolveu radicalizar, sob efeito do ódio por ter perdido o primeiro emprego de fazedor de pizza, devido ao atestado médico de 30 dias.

Tentou primeiro o fundamentalismo Taleban em secretos telefonemas ao porta-voz radical Zabihullah Mujahid, que se prontificou a ajudá-lo na sua revolta, dizendo que estariam fazendo uma limpeza homofóbica nos próximos dias. Assim, seriam enviados 20 mil homens equipados com coletes-bomba para Cabul, às vésperas da primeira parada gay do Afeganistão e seu nome seria colocado no time titular. O propósito era que explodisse todo mundo, para que nem uma listra sequer do arco-íris restasse na lembrança daquele país.

E seu nome também seria repassado via fax para o mestre de cerimônias celestiais, que o aguardaria aos ritmados sons da guerra santa, com muito solo de metralhadoras e vozes bombásticas com granadas percussivas. O extremista, juntamente com seu grupo, não aceitava de maneira alguma que tal manifestação ocorresse assim tão explícita, em baixo das grandes barbas.

Foi aí que o pretenso soldado da morte, cria da Vila Tiradentes, resolveu repensar sobre todos os aspectos, decidindo rejeitar a ajuda. Mesmo com o fundamentalista duplicando o número de virgens no paraíso e até oferecendo um cargo no primeiro escalão do governo de Alá, o incondicional fã de Bob Marley não voltou atrás na sua decisão.

Então, o porta-voz ameaçou o Cristo Redentor, aquele gigante alegre que não tem medo de se equilibrar em cima do morro e é uma das sete maravilhas do mundo moderno. Disse que o que fizeram às Torres Gêmeas seria fichinha. Ericksson não se incomodou e até pensou que seria bom ver o símbolo de adoração católica se despedaçar na poeira. Saciaria o desejo de muitos evangélicos abobados, que não diferenciam a obra de arte do culto religioso.

Bem, a próxima parada do indignado irmão de Jhon foi o cangaço. Pesquisou a história de Virgulino Ferreira, mandou Juarez Surubim confeccionar um chapéu de couro no estilo da época, encheu a testa de estrelas e cruzou um embornal cheio de bolinhas de gude no peito com uma estilingue de mangueirinhas de garrotear braço para ligar soro, chamou Guiu lacraia dance para ser o braço direito do bando e alguns atleticanos de camisas rosas como os baixos escalões de tiros.

De Erickson, sua graça passa a ser Zifirino, preservando apenas a rima. E saiu a pé seguindo a beira da linha procurando atividades cangaceiras. Como diria que quem caça acha, encontraram em um trecho do caminho uma gangue de alucinados comedores de cogumelo, que confundiram os lunáticos de Zifirino com a volante e partiram com pedras e paus sem piedade.

Lacraia abandonou o chefe e suverteu no capim. O restante dos seguidores do novo cangaceiro também não quis esperar o segundo tempo das tapas e se perdeu ao léu. Sobrou mais indignação e hematomas para o filho de João Batista e Eliene, que, após ser socorrido pelo Samu, encarnou Dom Quixote dizendo que enfrentara sozinho mais de 100. Foram outros 30 dias de atestado. Desta vez, sem preocupação, pois não tinha mais emprego para perder.

Sentindo-se recuperado, voltou a planejar sua vingança contra o mundo. Agora, nada de Muhamed Erickson nem Zifirino, seria Zé, Zé Erickson da Peixeira, mesmo sabendo que Zé é o nome do capeta mais velho do inferno segundo Tid Malacabado, e foi também o primeiro corno declarado e ludibriado da história.

Desta vez, sem bando e sem muita alegoria na testa ou nas roupas, pois Zé que é Zé encara no braço, como repete seu avô que também é Zé.