MÃE DÁ LUCRO!
Por Carlos Sena
Mais um dia das mães. O comércio festeja uma das suas mais preferidas datas. Para efeito de vendas, só é comparável ao natal e dia dos namorados. Mãe dá lucro, decididamente! Lucro material e afetivo. Este, o da nossa predileção, pois a sociedade de consumo jamais venderá "afeto", "amor", "carinho", em farmácias ou supermercados.
O almoço com a “mamãe” vira calendário obrigatório. Na própria casa delas ou em restaurantes, reunir a família nesse dia já é tradição. Muitos ainda preferem esse emocionante almoço na própria casa da genitora, regado a presentes, cardápio sofisticado e todos os mimos que ela merece. Afinal, mãe é mãe e, segundo Cazuza, “só elas são felizes”.
Na lógica da mãe que dá lucro, o maior deles é o afeto! O presente que se compra é bom e ela gosta, mas mãe verdadeira gosta, repetimos, de afeto. “Aurélio” o define como “S. m. – simpatia, amizade, amor, sentimento, paixão”. Utiliza-se de cinco sentimentos importantes, como se fossem pouco para traduzir um sentimento tão incomum. Há uma contradição em ser Substantivo Masculino? Num primeiro momento pode até parecer. Contudo, nos encantamos com a forma aparentemente contraditória. Afinal, mãe não pode mesmo ser Substantivo Feminino, como que dando lições aos “marmanjos” acerca do amor. Este, sim, antológico: singular e plural ao mesmo tempo. Única (a mãe) na perpetuação da espécie; várias, na consubstanciação dos filhos e na garantia do bem estar geral deles.
Não bastasse ser mulher é mãe. Não bastasse ser mãe é misto de santa e pecadora; não bastasse ser frágil na compleição, é forte qual a casa edificada na rocha; não bastasse ser de luz, vence as trevas quando nina o filho acordado no meio da madrugada. Contam-lhes histórias, "carneirinhos", transformam-se em mil personagens.
“Tu és divina e graciosa, estátua majestosa do amor, por Deus esculturada e tornada numa flor”... Estrofe de “ROSA” – canção de Noel do mesmo nome, muito adequada para entoar uma ode a elas, nossas mães, nesse dia.
Mãe, como vemos, dá lucro de verdade. Numa sociedade capitalista como a nossa, o ganho financeiro do comércio fica patente. Imagino neste dia, um punhado de elucubrações importantes:
a) mãe é um investimento de Deus, cujo lucro é o amor;
b) mãe continua sendo única: não se faz back-up dela;
c) mãe é antídoto contra violência;
d) mãe é uma escada cujos degraus são feitos do afeto que precisamos para ser feliz e nunca duvidarmos do amor...
Penso, às vezes, que quando a bomba atômica foi jogada do alto sobre Hiroshima e Nagasaki, aquele soldado deve ter se lembrado de sua mãe, daí seu formato de “rosa” ao explodir, como que nos alertando: "o mundo tem jeito desde que se aposte na civilização do amor".
Igualmente reflito: não fossem as mães, Freud teria construído seu campo teórico da Psicanálise? Mãe dá lucro, inclusive, aos psicólogos e demais profissionais afins.
Paro neste “penso-repenso”! Afinal, no trajeto do amor em tempos tão duros como estes, melhor enveredar naquilo que nos sensibiliza pela certeza de amor sincero. “Amor só de mãe e paixão só de Cristo” – dizeres de um pára-choque que, exagero a parte, serve para nosso contexto. Particularmente, nunca ouvi falar no final de uma relação entre filhos e mães. Mesmo quando a distância, a relação se pereniza pela força da natureza que estabelece esse liame, em nome do Criador.
Em cada segundo dia de maio, um “R” se interpõe: maioR! Decodifico: o maior presente que se pode dar à mãe em seu dia é PRESENÇA! Certamente, os filhos que são presença durante todo o ano, nesse dia solene não se preocupam com o presente do comércio, mesmo sabendo que uma coisa não invalida a outra. Um gesto, um olhar, um carinho, uma rosa, uma oração (àquela que se foi) se bastam em si. “Como eu não sei rezar, só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar”...
Do alto dos seus 81 anos, nove filhos, um único casamento, minha mãe impera. Lúcida, lúdica, "doméstica", "do lar", convive fortemente com todas as dificuldades que "prazo de validade vencido" impõe. O grande detalhe é sua felicidade. Filho seu não tem defeito, nem é feio, nem é de pouca inteligência. Defeito de mãe (!), pois parece mesmo que esse ser de luz só muda mesmo de endereço.
Abaixo, um belo poema de Mário Quintana, como nossa homenagem a todas as mães
Mãe (Mário Quintana) |
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(Mãe... São três letras apenas |