POBREZA CULTURAL
Esta frase, cujo autor não anotei, eu li no Jornal Zero Hora alguns anos atrás: "A decadência cultural geralmente antecipa a decadência da sociedade". Pelo que se vê hoje, escancaradamente, na TV brasileira, nossa cultura caminha para o precipício. Alguns programas televisivos são uma afronta à inteligência e ao bom senso das pessoas. Pelo menos para aquelas que têm noção de moral e bons costumes.
Uma das coisas que me entristece é a decadência crescente da música brasileira. Depois das pérolas criadas nas décadas de 60, 70, 80, dói na alma ver certas aberrações que grassam por aí. Composições que nem assim poderiam ser chamadas, pois as letras não dizem absolutamente nada. Sem conteúdo algum, é só um repetir de palavras idiotas e sem sentido. Se ficasse só nisso... mas não! Falta voz, falta decoro, falta noção de ridículo, falta categoria. Sei que deve ser uma forma de compensação: se não possui voz, se não tem uma letra inteligente, em contrapartida coloca-se pernões, bumbuns e seios à mostra. E dá-lhe rebolado! Assim a voz esganiçada e a canção inócua passam despercebidas. Mostrar o corpo para esconder a falta de inteligência.
Mostrar o que é bonito, tudo bem. Mas, hoje, eu vi no Faustão (vi, porque não tive estômago para assistir tudo) uma cantora (nem gravei o nome) com um metro de diâmetro em cada coxa, ridícula num colant, tipo maiô. Pode? A letra da música, sem comentários... E o povão aplaudia como se ali estivesse uma Maria Bethânia. Aliás, pelo gosto musical do público do Faustão, creio que a Bethânia seria vaiada se ali comparecesse.
Esse gosto musical "sem gosto" se estende a outras áreas da cultura nacional. E dói! Em mim dói ver a derrocada cultural da nossa gente. E, se o pensamento que li na Zero Hora for correto, tenho medo do que nos reserva o futuro a nível de sociedade. Tenho dó dos jovens, formando sua personalidade, seu gosto cultural nesse contexto. Que cabeças estão se formando entre aqueles que só têm acesso a esse tipo de lazer? Aqueles que não têm em casa pais que orientem e indiquem o caminho das coisas boas e saudáveis?
Essa responsabilidade é da nossa geração. E, se não fizermos nosso papel dentro dos nossos lares, nossos filhos enveredarão para o mau gosto, para o vazio, para o "nada" cultural. Cabe a nós, sobreviventes de uma época pródiga em boas criações, a missão de despertar em nossos jovens o senso crítico e a sensibilidade para saberem separar o lixo e evitar a pobreza cultural.
Plagiando mestre Jacó: Que Deus nos ilumine e abençoe!