ROBERTO CARLOS: A DOR DA ALMA

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Por Carlos Sena


Há dois tipos de dor: a dor do corpo e a dor da alma. A dor do corpo o homem resolve com analgésico, anestésico, terapias alternativas, etc. A dor da alma... Esta é difícil passar utilizando o que dispomos, exceto alguns paliativos que um bom psiquiatra pode receitar para aliviar tensões, relaxar e provocar sono. Contudo, isto não nos garante um processo eficiente, posto que a dor da alma geralmente nos surpreenda em função dos nossos valores sagrados rompidos. A dor de Roberto Carlos por conta da morte de sua mãe, possivelmente lhe tenha colocado à prova. Imagino que ele talvez tenha pensado que a dor da perda de Maria Rita fosse a maior de todas. Engano. Dor pela perda da mãe não é dor, é um misto de VAZIO com ESCURIDÃO que acaba doendo por falta de espaço. Perder a mãe tem um sentido físico e emocional inimaginável, diferente da perda de um grande amor. A gente perde um grande amor que, por ser grande, poderá nos alimentar de lembranças o resto da vida; por ser grande poderá também se fazer esquecer como que permitindo ao amado a reconstrução da vida. A perda da mãe causa certa revolução interior, mesmo para aquele filho meio ausente. Na verdade, vai-se um pouco de cada um, na medida em que a mãe significa nossa primeira morada. Nossas primeiras emoções nos foram transmitidas pela mãe durante os nove meses de gestação. No seu útero dormimos, nos alimentamos, respiramos até que nos deu a luz!
A mãe é um ser tão sobrenatural em sua naturalidade que Cazuza em uma de suas canções disse "só as mães são felizes". Eu fico meio sem entender, mas pela dúvida, prefiro a certeza de que todas têm um misto de santa. Roberto Carlos sempre deixou clara a sua relação de carinho e afeto por Dona Laura. A canção que leva seu nome é uma das suas mais bonitas, no nível de Detalhes e Fera Ferida. Com certeza sua dor deve ser atenuada por tudo que ele fez e foi pra ela, mas mesmo assim o VAZIO e a ESCURIDÃO devem estar lhe atormentando. A expressão "dor da alma" é a que tem tudo a ver com esse sentimento provocado pela ruptura afetiva mais dolorosa que imagino existir. Digo imagino porque ainda tenho a minha mãe - do alto dos seus oitenta e um anos. Viva, feliz, lúcida. Judiada pela vida, saúde debilitada, mas feliz. Isto me credencia essa imersão na dor do nosso REI, até porque diferente de nós, ele tem poderes econômico-financeiros altos, mas que pouco servem nessa hora. Proporcionaram conforto, cuidados, remédios caros. Mas a vida não é eterna e chega o momento da "partida" que ninguém se livra dele. É nessa hora que valerá o que se construiu por dentro, no exercício do amor, do respeito, do perdão. Perder a mãe dói porque é uma ruptura simbólica do amor. Neste sentido, o filho de Dona Laura deve agora ser doutor: passou pela perda de um grande amor e agora do maior deles. Amores diferenciados, mas amores. Fissuras que o tempo manterá por toda vida: uma pelo componente da paixão, a outra não. O componente do amor de mãe não se define, posto que é envolto em mistérios. Como tal só se sente.
O tempo vai fazer RC voltar à normalidade da sua vida. A fé que tem em Deus, os amigos diletos, a religião, são fortes elementos que o ajudarão. A certeza de que somos todos "caminheiros" e por isto mesmo um dia devemos nos encontrar em outra dimensão, talvez seja um bálsamo importante. Provavelmente a canção LADY LAURA será permanente no repertório do Rei. Pra quem sempre conviveu com as notas musicais, a vida nem sempre acontece em dó maior, dó menor. Perder a mãe é Ré. Mas SOL renascerá e, certamente, o nosso Roberto irá pedir em oração: Lady Laura, me conte uma história, Lady Laura, me leve 
pra casa Lady Laura, me faça dormir...

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