Veranico em Morse
Veranico em Morse
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Não sei por que nessa altura do campeonato vou pendurar as chuteiras e dizer que meu time perdeu, já que meu time sou eu, às vezes na 10, às vezes na 5, quase sempre na 2 trocando depressa pela 1, quando necessidade há de permutar as camisas ligeiro e lembrar de modo infantil que um dia já fui furacão ou quase, nem sempre com um 7 rabiscado nas costas, nem sempre ao menos uma ventania.
Já fui brisa no sol das memórias e talvez ontem tenha sido uma boa hora.
Mas têm horas, quem sabe às 5 da tarde, quem me dera às 10 da manhã, eu conseguisse entender, como quem finge que entende, que raios está acontecendo com a diagramação dos sinais, o que afinal querem de mim, e se a direção for essa mesma, confesso mal distinguir o f da fé do f da força.
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Poderia começar uma biografia sobre o desempenho do meu time nos últimos 50 anos, embora finalmente o veranico de abril tenha mostrado seu sorriso moderado e ando bem mais inclinado a dar um rolê de bike na praça e a praticar a língua dos expatriados, do que me prender a gramática dissonante que perdeu de vista a verdade de agora, somente de agora e olhe lá.
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Contam que melodistas aprendem o ritmo dos caracteres em morse mais rapidamente que os não-melodistas, embora talvez seja a hora de indagar a importância da legibilidade e da premência, sobretudo quando uma certa soma de batuques com o tique invisível dos batuques me diz que sim e que não com muito mais arrojo que traços e pontos visíveis.
Não sei por que hoje troco a fé por um passeio enluarado, mas já te adianto que não posso fazer do seu jeito, pois só consigo fazer do meu.
Mesmo soletrado dessa forma: -- -- ... -- [!], legível para quem entende, meu time anda desatinado e pelo visto percussivo de tudo, impossível não aspirar esse hiato de abril, essas árvores e esses pássaros, e então articular a língua dos excomungados que também perderam a fé e se perdem em frases longas, Dah-dit di-di-dit dit, Dah-di-dah-dit dah, note um pequeno pormenor ao ler o código, pontos e traços lêem as folhagens do veranico, verdes e úmidas, ocres e secas, quer você queira ou não.
Que dá certa vontade de entregar os pontos e seguir os traços, do mesmo jeito que se segue uma fragrância, não por uma questão de fé ou de força, mas para encontrar o lampejo da felicidade sem consignação, o dar sem receber e o receber sem dar, o passeio no entardecer falando a língua dos desavisados cujos tapetes foram puxados sem ao menos um pormenor.
Já tentei fazer do seu jeito e não consegui, não que isso seja uma lástima, “pois traidor do próprio amor o peito sente”, o veranico me manda entregar mas eu pego de volta, as linguagens só fazem sentido se não forem intencionais, meu time pretende falar a língua dos que jogam conversa fora e alpiste para os que voam, quem sabe um dia a equipe se canse da trave, só posso fazer do jeito que sei fazer, amanhã talvez venha a ser uma boa hora, terá valido a pena se deixar alguma saudade.
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