Quando a sorte vem, é assim

Tem dias que a sorte resolve sorrir.

Olhei para os dois lados, para trás, para cima.. Bem, parece que é para mim mesmo. Então, o que há a fazer a não ser sorrir de volta?!

A nuvem preta petrificada, inexplicavelmente, resolveu sair de cima de mim.

Confesso, que a manhã começou com cara de tragédia. Fazer uma visitinha básica em dois médicos em um mesmo dia, é no mínimo, muito desagradável. Mas isso, só se o sorriso não acontecer. Como, supreendentemente, não foi o meu caso, as coisas fluíram com uma suavidade de uma nuvem. Dessa vez, vermelha. Da cor da paixão e em forma de setas. Eram duas. Apontando para irresistíveis opções.

A primeira apareceu pela manhã bem cedo e me fez esperar, pelo menos, umas três horas para ver o que havia além daquela porta fechada. Quando a porta abriu, vi a seta (lê-se no aumentativo) indicando o oftalmologista mais charmoso do sistema solar. Valeu a pena cada segundo olhando aquelas revistas com informações da vida alheia e, pior, ultrapassadas. Se soubesse que aquela era a porta da felicidade, esperaria pacientemente a vida inteira, leria aquelas revistas por vezes e vezes sem cansar.

Além de lindo, educado e cheiroso. Ele é prático. Sabe o que quer. Gosta de conhecer bem as pacientes e obter detalhes de sua vida pessoal. Elogiar muito e olhar bem fundo nos nossos olhos - oftalmologistas fazem isso como ninguém, por que será?

Gosta mais ainda de pegar o número do telefone. Afinal, talvez eu precise que ele me ligue todos os dias para saber se minhas pupilas estão bem, se estão felizes, perfeitamente recuperadas daquele colírio serial killer. Se meus olhos estão brilhantes e fascinados igual a primeira vez que me viu.

Normal. Um bom profissional. Os bons (e bonitos) médicos deveriam sempre agir assim.

Depois do "quiz" rotineiro. Partimos para o objetivo incial da consulta - que por sinal, eu já havia esquecido.

Depois de tanto ver letrinhas pequenas e lentes girar, recebi a notícia que consigo enxergar. Muito bem, obrigada!

Infelizmente, enxergo tão bem a ponto de ver nitidamente aquela foto com sorrisos congelados e imagem de eternidade de uma familia feliz.

Então, adeus aos óculos e ao doctor bonitão. Pelo menos, enquanto houver aquela felicidade tripla naquela mural. Um conjunto de felicidade deve ser respeitado. E melhor, admirado.

Já tava quase desistindo de ir ao dentista pela quarta vez em um mesmo mês. Mas por falta de algo melhor para fazer, resolvi arriscar. Alguma hora teria que parar de fugir.

Dessa vez tudo foi rápido, sem a angústia da espera quase infinita. A seta apareceu rápido dessa vez. Indicava um menino vestido de dentista, esforçando-se para passar um ar de responsável. A carinha era bem familiar, de alguém que esporadicamente faz visitinhas ao meu orkut.

Ele realizou seu ritual dentário tão calmamente, que essa sensação acabou passando para mim.

Dessa vez sentar em uma cadeira meio cama e ficar mil horas olhando para cima e com a boca aberta, tendo que me cominicar com alguém mexendo nos meus dentes e que vejo meio de cabeça para baixo, em cima de mim, sentado ao meu lado não foi tão complicado como deveria ser.

A única dificuldade foi para entender a necessidade de voltar novamente se não havia mais nada para se fazer lá. Pelos menos, não nos meus dentes.

Voltarei. É só o que me resta. Eu e essa minha mania de colecionar mensagens subliminares e subjetivas.

Entre uma consulta e outra vi o carteiro mais charmosinho da história dos Corrreios. Ele tinha uma ar despreocupado de Dom Juan. E melhor, sabe muito bem como pedir um informação. Adoro quem sabe pedir, quem pede tão fácil e convincentemente. É fatal. E eu dou. Sempre dou. Direto e iresistível, simples assim.

Voltei para casa radiante. O dia conseguiu o recorde de surpresas. Agora vou dormir, mas antes rezarei para esbarrar novamente com o carteiro amanhã. Gostei dele. Parece livre e leve. Além de possuir uma beleza bem singular.

Melhor não seguir as setas. Tenho vida própria e opinião também. Costumo andar pelo lado oposto do caminho traçado.

Por isso, sei bem como devo agir amanhã. É só correr para o abraço agora. Pois quando a sorte vem, é assim. Basta continuar a sorrir.

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Talita Souza
Enviado por Talita Souza em 17/04/2010
Reeditado em 17/04/2010
Código do texto: T2203558
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