CHICO BUARQUE, UMA LEMBRANÇA.   16.04.10

"Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu". A canção imitando a vida. A vida sendo ela mesma: ignorante e sábia, dependendo de quem a compreende. Itinerante e permanente, dependendo de quem tiver a capacidade de sentir a insegurança do transitório e a dureza da permanente existência ensimesmada.

"A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu". E como na música a gente estanca pela impiedosa inércia de não podermos ser quem gostaríamos, quer como deus ou como o diabo. O mundo parece crescer demais para nossas limitações de menos, como se na corda bamba o equilibrista tivesse que levitar diante do fracasso.

"A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega roda viva e carrega o destino pra lá"... Tal qual a voz da alma que se cala em si, a voz ativa desativa em nós os tons maiores do que seria  mandar no destino. 

"A gente vai contra a corrente até não poder resistir na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir"... A vida alinhavada pelos  nós que a correnteza não desata no tempo certo. Até que a resistência se dê por vencida e a vida em si mesma nos avise da precisão de voltar, mesmo sem cumprir o estabelecido. 

A vida é mágica e nunca se estabelece em si. Mas a gente, pela insistente mania de nos julgar sabidos, esbarra nos dissabores inesperadamente, esquecendo que "sabido morreu de velho"(?). Cai o pano do nosso espetáculo, como se pétalas fossem se derramando no mais rústico chão. Como se a nossa sabedoria não soubesse de nós, ignorando que um dia NÓS fomos de tudo um pouco, inclusive loucos por esta aventura fantástica que é viver sem dispor do minuto que nos resta em nossa frente.

Carlos Sena - csena51@hotmail.com