LOS MOMENTOS
Certa vez, em meio a devaneios existenciais, numa conversa a dois, entre reflexões e risadas, perguntei ao meu namorado quem tinha inventado a música. Quem será que tinha tido a brilhante idéia de inventar a música. Ele com um sorriso esboçado e os olhinhos pequenos, falou ao meu ouvido: “- Foram os anjos.” Achei linda a sua resposta, e muito sábia por sinal. Só poderia, realmente, ter origem nas coisas do Alto, daí se explica o porquê de algumas criaturas já nascerem com disposição aos sons e a música, como os pássaros, os grilos, por exemplos, e até a gente também.
O mundo sem música, e quando falo sem música digo no sentido literal da palavra, porque sem som é impossível, seria muito chato, estressante, monótono. A música, além de ser terapêutica, é marco no tempo, remete a momentos. Assim como me lembrei agora dessa conversa que tive um dia desses com o dono dos olhinhos pequenos.
E pensando nisso, mergulhei num passado próximo, no primeiro e segundo ano da faculdade, quando a euforia do pós vestibular fazia os olhos brilharem e o assunto ser apenas um: o curso.
Cheguei na Ufal com entusiasmo de gladiador e mais, com sonhos e ideais marxistas sem ter nunca lido nada de Marx. Admirando o “Che” sem nem saber ao certo o que ele defendia. A revolução estava perto e eu estava ali escutando seus gritos.
Era esse o cenário, como um filme de que relata os Anos de Chumbo da Ditadura. Nesse contexto me engajei numa campanha para as eleições do DCE, ao mesmo tempo em que o Centro Acadêmico me enchia os olhos: “Conquistando Mentes e Corações”. Passei algumas tardes na Ufal em campanha, percorrendo salas, conhecendo blocos, uma maravilha para quem é calouro. E pensando em tudo isso hoje, só lamento, profundamente, porque não gostava, à essa época, dos Los Hermanos. Aquelas vozes atuais que mais pareciam de época, com uma melodia bem peculiar tinham tudo a ver com aquele sentimento que eu carregava. Meu filme estaria perfeito.
Recordo que eles faziam poucos shows em Maceió (ou era eu quem não os notava), só sei que era uma comoção. Muita gente comentava e se entusiasmava. Eu não achava graça nenhuma naqueles barbudos com tendência a depressivos.
Uma pena. Tempos depois, já no quinto ano, uma amiga minha do estágio me mostrou uma música deles cantada por outro artista. Aí, despida de idéias pré-concebidas pude alcançar a profundidade da letra. Passei a buscar mais e mais músicas.
O triste é que só depois que a banda acabou é que enxerguei além daquelas barbas. Porque se tivesse visto antes, essas minhas lembranças desse tempo na Ufal seriam muito mais bonitas, seriam “los momentos”, com trilha sonora e tudo.
Pois é, “Todo carnaval tem seu fim” e o Marcelo Camelo hoje é “Sòu” ou seria “Nós”? O Rodrigo Amarante é “Little Joy” e eu uma bacharela em Direito descrente no socialismo.
“E quanto eu te falei, tudo vai mudar” e mudou. O bom é que as lembranças são pra sempre e a musicalidade tem toques de eterno, o que faz, mesmo assim, dos meus bons momentos, los momentos.
Madalena Sofia
16.04.10