LÁGRIMAS NO MEU ROSTO FELIZ
A chuva fina chegava de mansinho. Parecia trazer, com a manhã preguiçosa, uma benção, espalhada pelos leves e dourados raios de sol; um milagre a ser desvendado.
Eu sei que nem um dia é igual ao outro. Mas essa manhã era especial, diferente de todas as manhãs.
Tudo parecia estar tão longe da compreensão e, ao mesmo tempo, ao alcance das minhas mãos...
A chuva caia lentamente, tocando com carícia as pétalas da rosa vermelha pendida no ramo, que ainda se livrava das últimas gotas do orvalho daquela manhã.
De gota em gota, ela vai chegando com o canto do bem-te-vi, que insiste em chamar, docemente, os primeiros raios de sol. E, silenciosa, vai inundando vidas, deixando o frescor e uma alegria de criança brincando.
Vai, aos poucos, sutilmente, despertando lembranças, aparando as agruras, no silêncio que consola a alma, trazendo um encanto juvenil...
Chuva fina que cai levando fartura para a terra sedenta, alegrando o jumento magro, sujo e fedorento que olha triste para o chão.
Chuva fina da inocência, que não fere, que não alaga e nem mata inocentes, que faz o açude sangrar: promessa de fartura, de milho verde para a festa junina...
Chuva fina que me aguça o sentido da compaixão, que rola como esta lágrima, no meu rosto feliz.
Chuva que escorre na vidraça, refletindo as cores do arco-íris, molhando miudinho, miudinho, respingando na dor...
Com esse leve tilintar de suas gotinhas vai tocando em meu rosto, como um beijo doce, lavando o pranto que minha alma veste.
E neste silêncio que consola, me incendeio de puros desejos. Com inefável doçura todo o meu ser comunga dessa paz...
Com a chuva fina que cai me descarrego das ilusões do mundo e prossigo...
Com as lágrimas que rolam do meu rosto feliz, vou tecendo orações diante do altar, que eu ergui. E o milagre, por inteiro, me é revelado!
Carlos Roberto Furlan
Eng.Agrônomo / Professor