Avatar - James Cameron e sua bobagem eco-esotérica.

Avatar - James Cameron e sua bobagem eco-esotérica.

Como ainda estão falando de "Avatar", o fime do canadense James Cameron, por conta de sua passagem pelo Brasil recentemente, não posso deixar de digitar umas linhas a seu respeito.

Assisti a "Avatar", baseado num comentário que li na revista Veja. Logo percebi a roubada, pois me veio à mente que, atualmente, praticamente não mais há limites para efeitos visuais, que, por outro lado, esse negócio de 3D já vem sendo objeto de experiência desde os anos 50 e, enfim, que o roteiro era na linha ecológica-esotérica-"shoo-bi-doo".

Como se sabe, o roteiro todo gira em torno da tese de Gaia e dicotomia entre os interesses de exploradores sem coração do mundo civilizado x e os direitos de selvagens bonzinhos, literalmente conectados com a natureza, o planeta e seu espírito protetor. Há alguma referência à Biblia, também, representada nas árvores que lembram as árvores da Vida e do Conhecimento, do Gênesis.

O planeta longínquo é rico num raro e caríssimo mineral. Os homo sapiens sapiens vão até para extraí-lo, a qualquer custo. Acontece que o tal planeta tem uma particularidade: é habitado por tipos humanóides e estes, estão conectados com todo o planeta, que se constitui numa forma superior de vida, resultante da conexão de todos os seres vivos.

(Quando via os Na'Vi se conectando com animais e plantas como alguém que enfia um plug na tomada, não pude me conter no riso. Tipo assim: "quer entrar em "alfa", irmão? Quer entrar numas de falar com os bichos e plantas? Sem essa de mantras e coisas do tipo. Basta conectar seu plug biológico no lugar certo!").

Alguns detalhes visuais da fauna e dos Na'Vi, indicam claramente suas referências. Exemplos:

- Os bichos sem olhos e dentaria horrenda foram inspirados na figura da besta de Alien 2 - a Ressureição (que ele dirigiu e tinha uma Sigourney Waver no papel principal, lembram?).

- A pelagem dos seres (inclusive os Na'Vi), lembram animais da fauna sul-america, tais como lontras, capivaras e antas.

- O rei dos voadores, por sua vez, foi inspirado numa espécie de pterossauro que habitava o nordeste do Brasil na pré-história, batizado de Anhanguera (confira aí no Google!). e

- O símio que aparece que algumas cenas, foi inspirado, certamente nos macacos muriquis (noves fora os olhos de lêmures), habitantes da Amazônia.

- os elementais que flutuam em torno do personagem princípal e da Árvore do Espírito, não ria!, tem a forma e a cor quase exata da flor da Munguba.

Ah, sim: aquela máquina de guerra usada para derrubar a Arvore da Vida e perseguir o Avatar também é uma versão de uma máquina de tração que aparece em "Alien 2", que tinha a marca "Munck" e foi operada por Weaver, na batalha final contra o monstro alienígena do filme.

As pedras flutuantes, não posso deixar passar, foram inspiradas no quadro "Le Château des Pyrénées", de Henri Magritte (e, muita gente já fez isso, nos livros, quadrinhos e desenhos animados, antes).

Mas, é engraçado. Os felinos "locais" não parecem descender nem de longe com qualquer animal da fauna existente no planeta (todos de seis patas e sem olhos, se não me engano). Num ambiente real, tal circunstância sugeriria a idéia de que eles seriam seres imigrantes ou transplantados para o local.

É Cameron dando recibo, cometendo um "ato falho" com muita cor e detalhe, dizendo que daquele ambiente talvez não pudesse surgir um ser tão desenvolvido e bom.

O que se salva no filme, para mim, são os efeitos visuais. De fato, o cineasta e sua equipe conseguiu elevar bastante a capacidade de geração de efeitos visuais, a despeito de usar técnicas já conhecidas - em certos momentos, o que consegue fazer em termos de animação chega a surpreender, como no caso das expressões do rosto, das mãos preênseis e, ação. Mas, o cineasta não conseguiu eliminar aquele efeito estranho das animações, em que os corpos se movimentam no espaço como se não tivessem gravidade sobre si ou, sei lá, não estivessem presos ao chão.

Como se vê, não faltam informações, referências e, tecnologia, na receita do roteiro do filme. A questão é que resultou em algo um tanto chato - aquele negócio de lição de moral, de protocolo de boas intenções e, bom mocismo.

Mas, como era de se esperar, o público adorou. E era de se esperar. O roteiro, os cenários, os efeitos especiais, o efeito 3-D e, ação fazem de "Avatar" o filme perfeito para a "Sessão Pipoca", ao lado dos amigos de colégio, num fim de tarde.

Dito isto, me permitam mudar um pouquinho o rumo deste artigo. Vamos a algumas provocações - coisa melhor do que ficar falando desse filme que não é lá grande coisa e, como era previsível, "micou" na festa do Oscar.

Uma comparação entre o que manifestou Cameron em seu filme e, o que pensa, por exemplo, o Partido Verde, de Marina Silva, baseado no fato de que ambos parece ter, neste momento o mesmo e genuino interesse pela Amazônia:

Para o PV e Marina, o negócio é deixar os "povos da floresta (isto é, gente majoritariamente composta de imigrantes nordestinos que foram para a Amazônia durante o ciclo da borracha e, que depois, se viram obrigados a permanecer por ali, largados à própria sorte, insistindo na coleta de látex e víveres, caça, pesca, coleta e lassa agricultura)" mais ou menos no mesmo estado de desenvolvimento social e tecnológico em que se encontram, , isto é, praticando a agricultura de subsistência, coletando víveres, caçando e, pescando, numa forma tradicional e de baixo retorno financeiro.

Aparentemente, a visão do cineasta James Cameron é a mesma. Mas, não é. Na visão dele, assentado na tese de Gaia, o mundo selvagem é perfeito em si e, simplesmente não deve ser tocado. O homem ocidental, civilizado e cristão e sua cobiça devem ser mantidos longe do paraíso. No mundo imaginado, não é apreensível nem cabe a figura do cabloco, que já é um tipo resultante e contaminado pelos males da civilização. Mas, indio, com arco e flecha, está em seu lugar.

Na visão de Marina Silva, candidata a Presidente da República pelo PV, os "povos da floresta" podem lincar seu modo de vida local e "auto-sustentado" com o mundo da grande indústria - na medida em que os tais povos podem vender à indústria capitalista sua borracha, coquinhos e frutas, para que a produção dos mais diversos produtos - perfumes e produtos de higiene pessoal, por exemplo.

Mas, Cameron não abre mão de sua pesada estrutura de produção, que consome altas taxas de energia elétrica, por exemplo. E Marina não abre mão da presença do ocidental cristão e capitalista dono do "O Boticário" como vice em sua chapa de candidata à Presidência da República.

Cada um, por seus motivos, tem lá seus limites em relação à conservação da natureza e do mundo dos "povos da floresta".

O mundo dos coletores, dos Bra'Si (isto é, os Na'Vi amazônicos), para mim, é um mundo triste e enfadonho, de gente da vida sacrificada e sem horizontes, cuja realidade ao redor permanece quase que imutável ao longo do tempo, com seus duros desafios, carências e, isolamento - se não, abandono.

James Cameron e e Sigourney Weaver, estiveram em Brasília, para protestar contra a construção de uma hidrelétrica que pode ajudar a mudar a realidade econômica e social da população amazônica. Marina deve ter tido um mínimo de traquejo para não ter comparecido - sem embargo dos dividendos decorrentes, em período eleitoral.

...................................

EUA e Canadá podem consumir vorazmente energia elétrica e avançar no desenvolvimento decorrente da utilização deste insumo básico para o desenvolvimento de tecnologia, riqueza e conforto, nos dias atuais.

Mas, para os Bra'Si, Cameron imagina algo diferente e mais de acordo com os princípios das boas práticas ecológicas: manter a população amazônica presa no estágio econômico que sucedeu ao exuberante período da exploração intensiva da extração da borracha.

Como se vê, o cabra é cheio de boas intenções. E, a par de sua obra sobre os fictícios Na'Vi, tem uma visão interessante para o futuro dos Bra'Si.

De repente, se conectando com um mundo amazônico, até se transforma num índio, vira um guerreiro que, à falta de guerras, vai praticar sua a caça e pesca virtuosas, além de catar coquinho, frutas, penas e o escambáu da selva, para vender aos turistas - ou à cooperativa dos cablocos, que, por sua vez, venderá a produção aos perfumistas, modistas (é assim que chamam?) e fabricantes de produtos de higiene pessoal do sul do país!

Em relação à ocupação e exploração das terras Amazônia, também tenho os meus palpites.

Na Amazônia existem aréas ocupadas por populações silvícolas originais em lugares isolados, populações resultantes de imigração ocorrida até o princípio do século passado (ligadas à atividade da caça, pesca, garimpo e, extração de madeira) e, correntes migratórias recentes (estas, que chegam, via de regra, praticando a agricultura extensiva de alta tecnologia).

Não raro, estas populações se entrecruzam no meio daquela vastidão de terras - com os choques e prejuízos decorrentes da falta de planejamento.

O problema: garantir o modo de vida das populações silvícolas originais, das populações resultantes das antigas correntes de migração e, das migrações mais recentes, além de preservar partes relevantes do ecossistema e biodiversidade amazônica.

Vejam bem. Nenhuma dessas populações estão dispostas a deixar a Amazônia. Chegaram, se adaptarm e se estabeleceram e, fim. Pensar no contrário, seria admitir a hedianda política de expulsão de populações.

A questão, me parece, é determinar com justeza e técnica, as áreas destinadas à preservação ambiental, garantia do modo de vida dos silvícolas, dos "povos da floresta (ou Bra'Si, como queiram)" e, dos agricultores que chegaram mais recentemente.

Não me parece possível levar a sério quem diz querer transformar a Amazônia toda numa espécie de parque ou reserva florestal, ou o que seja, em virtude da vastidão do território, do chamativo das riquezas ali presentes e, especialmente, dos custos e riscos relativos à soberania, envolvidos.

O caminho, então, é ter coragem para fazer o zoneamento e, estabelecer regras e condições de exploração da região. Do contrário, o território, as populações e um processo de ocupação estabelecido ali, pode resultar em algo inesperado - senão, desastre, porque a cobiça humana não costuma ser detida na base da bravata, proselitismo ou boas intenções.

......................................

Lá pelos anos 70, diziam no sul que o cerrado era imprestável. Hoje, apesar do desastrado processo de ocupação e arroteamentos de terras agricultáveis, os números afirmam e confirmam que o cerrado é o celeiro brasileiro que, em parte, alimenta o mundo.

Depois, disseram que o solo da floresta amazônica é imprestável para a agricultura, porque depois de alguns anos do desmatamento, dizem alguns especialistas, o solo de desertifica. Que bobagem! Digam isso aos agricultores que ocuparam o norte do Mato Grosso, Sul Pará e Rondônia e, preparem-se para receber uma sonora gargalhada de volta.

....................................

Um amigo meu se mandou, duas décadas atrás, para uma região onde hoje é o Estado do Tocantins, em busca de terras mais baratas, para a criação de gado. Se deu bem. Dali, ele foi para o Sul do Pará, onde adquiriu uma fazenda já pronta, num lugar onde havia a típica floresta amazônica (com castanheiras e, tudo), onde cria e engorda nelore. De lá, ele diz, não sai nem arrastado.

E não foi só ele que acreditou na fertilidade do solo da região: Lulinha (aquele!), recentemente se tornou seu vizinho, e agora é fazendeiro que compra toda a seleção nelore para engorda à disposição, na região.

Mas, isto é outra história!

.................................

Só alguém com um mínimo de conhecimento ou experiência pode avaliar o quanto é dura e sacrificada, a vida do agricultor - algo muito diferente do que as pessoas das grandes cidades imaginam.

Sabe aquele bucolismo, aquele contato prazeiroso com a natureza? Às vezes, não há bucolismo algum e, em certas quadras, sequer tempo para pensar nisso.

E o contato com a natureza é uma degladiação diária em torno do seu controle, para domá-la e revertê-la em favor da agricultura...