E QUEM NOS DARÁ A OUTRA FACE?
Com que sentido Jesus falou segundo os Escritos Bíblicos, “se alguém te bater na face direita oferece-lhe a esquerda”? Sinceramente no sentido literal da palavra eu acho complicadíssima a interpretação. É bem pouco provável, que num mundo competitivo como é o de hoje, alguém seja tão piedoso a ponto de se anular em função do outro.
Sem dúvida a caridade, a tolerância e a bondade são virtudes que elevam o espírito da pessoa que as internaliza e, por conseguinte, sabe usá-las; conforme a necessidade e o meio: receptivo ou não receptivo.
Ainda segundo os Escritos Bíblicos, Jesus falou: “e aprendi de mim porque sou manso e humilde de coração”. Mas Jesus é o próprio Deus. O filho do Altíssimo. E nós somos criaturas de Deus, conforme os Livros Bíblicos e a crença da cristandade. Fomos criados segundo sua imagem e semelhança. Mas não somos nós humanos, nem humildes e nem mansos.
Jesus era bom como homem e é bom como o Filho de Deus. O homem, porém, não tem na sua constituição o efetivo princípio da bondade. Quem é bom, não tem porque ser mal. Não precisa se apresentar como bom, tão pouco como mal. O homem é o que é. E Deus é bom, porque é bom. E não porque acolhe o homem, sendo este propenso a maldade.
Esta maneira de expor os fatos tem um sentido filosófico e religioso. Mas para explanar as reações das pessoas, diante do ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, é interessante a observação do contraditório existencial de fé e religiosidade do ser humano.
Diante da catástrofe natural, nem tão natural assim, que se abateu sobre esta bela cidade, o bom observador pôde ver cenas estarrecedoras do ponto de vista “natural” e pessoal, veiculados através da mídia.
Uma senhora que perdeu sua família, abordada por um repórter, que a interrogou sobre o ocorrido, proferiu a seguinte resposta: “olhe, apesar desta tristeza eu estou aqui querendo ajudar”, outro abordado respondeu: “o que fazer é a vontade de Deus”.
Na primeira resposta, observamos a vontade do ser humano em ser bom, em dizer olha estou aqui fazendo o bem, apesar de tudo. E na segunda notamos a tendência conformista da pessoa humana. A capacidade do homem em atribuir a Deus, aquilo que não é de Deus, mas obra sim, do próprio homem.
O homem é omisso no trato com esse mesmo homem. Sempre procurando estabelecer regras, normas e leis em favor próprio. “farinha pouca meu pirão primeiro”. Mas a desgraça dos outros essa não, essa é a vontade de Deus. Daí os governantes desgovernados que temos e o povo pagando a conta em nome do “Pai, Filho e Espírito Santo”.
Deixemos de hipocrisias, cuidemos com esmero de tudo aquilo que Deus nos deu. Mostremos a outra face sim, não para que batam, mas para aproximar, para harmonizar e para amar o outro como se fosse a si mesmo.
Só assim encontraremos quem nos dê a outra face. Do contrário haverá choro e ranger de dentes...
Rio, 11/04/2010
Feitosa dos Santos