IMPRÓPRIO PARA MENORES: CONTÉM CENAS DE SEXO E VIOLÊNCIA

IMPRÓPRIO PARA MENORES: CONTÉM CENAS DE SEXO E VIOLÊNCIA

Rangel Alves da Costa*

Não precisa que os anúncios em cartazes de filmes ou as vinhetas televisivas digam o que deve ser, ou não, impróprio para menores de 14 ou 18 anos, vez que não adianta censurar a curiosidade, o desejo ou a predisposição. Muitos desses veículos de comunicação até sabem que a audiência será muito maior se a vinheta proibitiva anteceder o programa ou filme. Quanto mais há proibição mais o despertar para querer ver o proibido. Por isso, a censura funciona ao contrário, liberando, dizendo: "assista que é isso mesmo o que vocês estão pensando".

Do mesmo modo, a censura pela faixa etária há muito que esqueceu que a sociedade vive outros tempos, que as pessoas convivem numa outra sociedade e que nesta sociedade não mais prevalece ou tem cabimento a clássica divisão infância, puberdade, adolescência, idade adulta e velhice. Somente três faixas ainda persistem, pois ou se é criança, ou se é adulto ou se é velho. Daí ser mais útil que as vinhetas estampassem "a responsabilidade é toda sua", pois ninguém em sã consciência vai achar que uma pessoa de quatorze anos já não esteja preparada para cenas que poderiam ser vistas somente aos dezoito anos.

O pior nisso tudo é que a censura, de tão inocente que demonstra ser, parece não querer lembrar a existência de coisas muito mais podres no reino televisivo do que vãs cenas que suponham relações sexuais ou violências explícitas. A nudez em cima de uma cama ou o momento exato em que o indivíduo é atingido por um disparo e cai são cenas, apenas cenas, que os olhos tem que assistir sem dar tempo à mente para pensar, refletir sobre a aquilo, criticar. Se houver alguma reflexão haverá também a compreensão de que as cenas implícitas são muito mais explícitas e trazem maiores conseqüências.

As novelas das seis e das sete, como costumam dizer, são verdadeiros poços de lições proveitosas para a vida, mostrando situações cotidianas que permitem ajudar os telespectadores a compreender aquilo que faz parte de suas realidades, apontam sempre os bons caminhos e dizem sempre que a ficção é o espelho bom onde cada um se enxerga no melhor que tem. Ora, ao menos deveriam ser assim, pois para a censura os folhetins televisivos são verdadeiros catecismos. É como se ensinasse que o imprestável não é impróprio.

Daí indagar: ensinar a trair, a roubar, a furtar, a viver desonestamente, a querer se dar bem em tudo, a ser mau caráter, a sorrir da desgraça do outro, a buscar a eterna impunidade, a aceitar a pobreza como um fato e a riqueza como um ato, a mostrar que o rico pode tudo diante do pobre, a dizer que o pobre de novela é quase sempre negro e marginal, não se constitui violência? Tais cenas são adequadas para a família que talvez se reúna nesse horário?

Nas novelas, quando o casal de ricos toma café, almoça ou janta e as cenas mostram uma mesa enorme repleta de tudo, de ponta a ponta, com comidas de todas as cores, não será uma afronta ao pai de família que assiste isso tudo no seu barraco e está ouvindo os seus filhos chorando com fome? E quando estes mesmos filhos choram porque estão vendo tanta comida e em casa não tem nada para comer, é apenas uma aceitável ficção?

Quantos adolescentes se perderam na vida influenciados pela dita ficção televisiva? Quantos jovens já foram presos por tentar roubar jóias, roupas e outros objetos dos modismos que são impostos pela televisão? Quantos homens e mulheres destroem seus relacionamentos por seguirem os "ensinamentos da televisão"? Por causa dos modismos e das apelações televisivas, infelizmente não existem mais aqueles hábitos verdadeiramente sertanejos, pois nenhuma mocinha quer se passar por matuta quando a mocinha da televisão ensina que a vida é totalmente diferente. Daí a gravidez, daí transarem com qualquer um, daí o total desrespeito às regras de conduta, daí passarem a achar sempre que seus pais são caretas, ultrapassados.

Talvez não seja violência, talvez não seja impróprio, talvez não seja nada esquecer de dar remédio ao filho ou lavar os pratos da janta porque naquele dia os protagonistas da novela vão transar pela primeira vez, porque naquele dia o marido vai encontrar a digna esposa com outro na cama, porque fulano vai matar beltrano, porque não sei quem vai aplicar o maior golpe da história.

Talvez não seja nada disso, mas é preciso saber que os seres humanos também são personagens principais de um enredo dramático chamado vida, e que por isso mesmo torna-se necessário que eles estejam preparados para as cenas de hoje e dos próximos capítulos, sob pena de que a história de suas realizações sejam impróprias para serem lembradas no futuro.

Advogado e poeta

e-mail: rangel_adv1@hotmail.com

blograngel-sertao.blogspot.com