Páscoa

À noite esta quente, e chove lá fora... As fracas caixas do meu computador estão tocando Secada. É páscoa, e tudo corre como um mau agouro. Tudo caminha para uma melancolia insólita. Meu mutismo tem esse “quê” de desolação e declínio, e foi sempre assim, esse sempre fui eu. Atrás de um sorriso amarelo, atrás de uma anedota mal contada. Atrás de futuro onde não se avista a luz no fim do túnel.

Um feriado prolongado, onde deveríamos lembrar não só da morte e ressurreição de Cristo, mas a causa de tudo isso. O porquê de um inocente ter sido condenado à morte em favor de assassinos e adúlteros. Mas tudo que vejo são chocolates e coelhos de olhos vermelhos... o consumismo desprovido de propósito e a ganância nos olhos dos homens. Mulheres se esbofeteando pela ultima caixa de chocolate da super promoção de páscoa.

Se esqueceram do sangue nos umbrais da porta. Se esquecerem da visita do anjo, se esqueceram do cativeiro. Vêem apenas o que querem ver.

Vamos tirar foto com o coelho gigante do shopping, ou quem saber come muita canjica. Vamos ver o que há dentro do ovo de chocolate... vamos celebrar nossa liberdade e esquecer do sangue a escorrer pelo madeiro, das mulheres choram, da terra convulsionando suas entranhas... Vamos esquecer o tumulo vazio. Ele já não esta mais lá...

Edson Duarte
Enviado por Edson Duarte em 04/04/2010
Código do texto: T2177336
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