Tortura não é arte nem cultura
Segundo artigo da revista História Viva, as touradas espanholas receberam influências de diversas tradições e culturas, e jogos envolvendo touros existem desde o século XVI a.C., como sugere a cena de um afresco encontrado na ilha de Creta mostrando jovens agarrados aos chifres de touros.
Na região da Espanha, os primeiros a lutar com estes animais teriam sido povos da época do Império Romano. Por volta do século III a.C., ainda de acordo com a revista, os celtiberos do Norte da Península Ibérica já sabiam que os touros que viviam nas florestas locais eram muito agressivos. Eles enfrentavam os animais, mas também os utilizavam na guerra, soltando-os enfurecidos em direção aos exércitos inimigos.
Ao Sul de onde estas tribos habitavam, a caça de touros acabou se transformando num verdadeiro jogo, pois alguns relatos romanos do fim da era pré-cristã descrevem rituais em que guerreiros enfrentavam touros selvagens na cidade ibérica de Baética. Da maneira como acontece nas touradas modernas, os toureiros primitivos da região se esquivavam do bicho usando uma pele para distraí-lo e, ao final, matavam-no com uma lança ou um machado.
Enfim, a tradição perniciosa da tortura aos touros, tanto na Espanha como em outros países da Europa e da América Latina, segue sua atrocidade assassina sendo defendida como bem de interesse cultural por diversos nomes do governo espanhol, como, por exemplo, a apologia à tortura no anúncio feito pela presidente da comunidade de Madrid Esperanza Aguirre, que deixou a população de manifestantes anti-touradas bastante indignada.
Em contrapartida, o presidente do partido antitaurino contra os maus tratos dos animais, ativista Manel Maciá Gallemi, um dos responsáveis pela criação da Plataforma Prou! (ou “Basta!”), disse que pode ser decretado o fim das touradas em toda a região da Catalunha, já que, com a participação de 800 voluntários, conseguiram colecionar quase 190 mil assinaturas, quando apenas 50 mil eram necessárias.
Gallemi afirma que a associação foi formada em agosto de 2008, com objetivo de criar uma iniciativa legislativa popular no parlamento Catalão. Começaram apenas com onze membros de diferentes organizações de defesa animal, sem aliar-se a qualquer partido político em especial, apenas com a ideologia de combate ao sofrimento dos animais e, nesse caso da Catalunha, de abolir as touradas, o símbolo da crueldade do homem para com os bichos.
Com o lema Tortura não é arte nem Cultura, os protestantes procuram fazer com que a comunidade internacional entenda como é doloroso todo o processo que antecede os dias da tourada e o ato em si, que é aclamado com olé por multidões de insensatos, e participem desta luta que alegam ser em prol da valorização da vida.
Relatam que o touro é aprisionado em um lugar escuro, com a finalidade de aterrorizá-lo. Quando o soltam e antes de ir para o redondel (local do espetáculo), cravam-lhe ferros de pontas de aço como parte da tortura. Maltratado e manipulado, ele começa a correr no redondel numa atitude aparentemente feroz, que mistura dor, medo e fúria. Depois de muito perseguir o toureiro envaidecido pelos gritos da plateia, é golpeado com uma espada, e lentamente vai morrendo sob o maior dos vilipêndios.
No Brasil, ex-colônia do país de Manoel e Joaquim, que também tortura, já não existe mais a farra do boi que perdurou covardemente por longos anos nesta atrocidade alcunhada de cultura. Até que foi eliminada pelas leis que responderam aos apelos dos sensatos. Porém, a tortura musical que nos empurram ouvido arriba, continua aquecendo a moçada do cerebro de algodão doce que se movimenta enrolando a língua numa dantesca mistura de português e inglês, como bonecos ventríloquos, dizendo apenas: no rebolation, no rebolation e no rebolantion... e quando o sinal de cansaço se aproxima, a coreografia do descanso exige um vai e vem, com a voz metalizada e indicios canibalescos, que no duplo sentido do assedio sem cortinas, avisa : Vou te comer, vou te comer, vou te comer, vou te comer!!