QUANDO O CORAÇÃO CALA POR PENSARMOS QUE A ALMA FALA
Era uma tarde comum sem brilho nenhum e eu adiava o telefonema. Por dentro a vontade crescia de ouvir a voz, mas um medo de não saber o que dizer encolhia tudo.
Engraçado como nos tornamos pequeninos diante circunstâncias que podem nos deixar sem graça. E não há nada mais sem graça do que não saber falar de amor para os que verdadeiramente amamos.
Foi assim que liguei. Atendeu um irmão todo alegrinho e agradável e passou o telefone para o outro.
- oi Cinho! - Oi leãozinho!
E para o oi não demonstrar emoção, falamos da alfândega, de malas, de calor e eu disse da voz dele estar igualzinha... e rimos...rs...e combinamos que todos se reuniriam neste feriado.
Fugi de prolongar a conversa. Tinha tanto tempo que não o ouvia que queria dizer que o amava e que estava muito feliz por poder ir vê-lo, mas não disse, como se pudesse dizer depois mesmo sabendo que depois acabaria não dizendo. Fiquei pensando... Como somos arredios em falar de amor para os de casa. Como se sentir fosse permitido, mas transformar em palavras, não.
Fiquei o resto da tarde me sentindo tola e visivelmente desconfortável por não ter dito. Sentindo-me como se tivesse vivido muito e não aprendido o mais importante. E logo eu que me dou tão bem com as letras. Eu que senti que a emoção dele também poderia ser fotografada. E com certeza, se eu tivesse ao lado dele todas as letras o fariam. Pois por mais que ele tivesse passado aqueles anos fora, eu sabia que sua alma continuava linda e seus encantos só teriam aumentado.