...ESTÃO TODOS SATISFEITOS COM O SUCESSO DO DESASTRE...

O carro seguia com a lotação máxima embora em uma velocidade controlada. O som de buzinas sempre alerta para o pior. Seguem derrapadas, som de metal se contorcendo e gritos que não se ouvem fazem parte de um cenário triste que se forma num fim de tarde. O beijo na boca não tirou o gosto amargo que tomou conta do universo seco que envolveu língua e dentes. Estamos todos bem e tudo gira apesar estarmos parados com grama nas mãos e lama espalhada por todo o interior. O asfalto em chamas sangra líquido escuro e viscoso enquanto permanece aceso entre fumaça e agitação dos que ajudam a conter todo aquele caos. Não houve tempo para medo nem reações, a vida sequer passou diante dos olhos de alguém, e o mundo também não girou mais rápido quando em capotagem, só restou tempo para um respirar confuso que durou não se sabe quantos segundos. Não há mortos, apenas feridos leves e lágrimas que caem em mãos que não se controlam sozinhas. E assim vamos nos recuperando aos pares, com braços desconhecidos que nos confortam e conduzem a locais com mais espaço e sem a confusão inevitável. Acidentes acontecem quando menos se espera. Quando menos se espera, a vida também se manifesta de forma intensa, mesmo que dorida...