METÁFORAS

METÁFORAS

Zé Uóston

Poisé... Depois que o Seu Uilson inventou essa história qui eu podia escreve as coisas que eu penso, e que passa pela minha cabeça... Mas não é que isso ta virando uma cachaça, ainda mais pior que a cachaça di verdade.

Procê vê. Num tem um dia, qui passa, pra eu deixá de anota alguma coisa, aqui no caderno qui o Seu Uilson me deu. Tem hora até qui eu largo mão de janta, qui é pra ficá aqui anotando umas passage que fica rondando aqui pelo meu bestunto. É coisas que eu me alembro di tê ouvido, mas, que na hora eu não tinha entendido.

O sinhô sabe. A gente que somos inguinorante, e nem tem o costume de pensa , acaba não dando muita trela prestas coisas qui os homis de estudo fala, entra por um ovido, e sai pelo otro. Como se diz. E, quando a gente se espanta, já concordou, e já tá inté repetindo pros companheiros, qui é tão inguinorante igual qui nem nois.

Daí é qui vai tudo no mesmo passo, de cabeça baixa feito igual gado. E coitado do cabra que levantá a cabeça, e botá os cornos acima da manada...

O simhô me adisculpe, eu tá fazendo esse arrodeio todo, mas, é qui hoji eu acordei com uma coisa me martelando a cachola, Foi um negócio qui eu ouvi, quando eu era ainda minino, e já pegava no cabo da enxada, trabalhando não sei pra quem. Se não trabalhasse, não comia. O sinhô qui é um homi de muitas sabenças, sabe qui lá no sertão, a gente trabalhamos pela comida. Olha eu aqui arrodiando de novo!

Poisé! O que está mi incafifando, e a tal histoia do peixe, qui o padre falô. na missa. Qui diz assim: Não adianta dar o peixe para o pobre, devemos sim, ensiná-lo a pescar. Foi assim mesmo. Mas, que diabo de peixe era esse, que eu nunca vi? Lá na minha terra, o peixe está no rio, i é do dono da terra onde o rio passa. Si o desinfeliz é apanhado pescando nas terra de alguém, leva uma pisa de criar bicho, e fica sem o peixe.

Depois que eu vim simbora pro Rio de Janeiro. Não é qui continuei ouvindo essa conversa do peixe.... E os patrão daqui, é igualzinho aos patrão de lá. E ainda fala, que pobre quando come vira vagabundo. Mas eu sei, e muito bem, qui lá no sertão, pra comê, ele vira é escravo.

E essa história do peixe, que estava me azucrinando as idéias, eu fui perguntar pro Seu Uilson,. Daí ele me falô qui aquilo era uma metáfora.

Metáfora ,e uma coisa que o sujeito diz, mas, ele ta querendo dize outra coisa, Si ele falá a outra coisa, periga da gente não intendê, i como é pra gente não intendê mesmo, ele enrola, e não fala, nem um coisa nem outra.

Disso tudo, a única coisa que eu entendi, é que o pobre quando está de barriga cheia não vai quere trabalha por um prato de comida. Ele vai qurê é salaário, qui esses homi cheio de fraseado e me-tá fo-ras, não qué pagá. Ah! Intão deve ser por isso qui o padre falo pra não dá o peixe...

Falei tanto, que se esqueci de perguntar pro Seu Uilsom, o qui qué dizê a metáfora. PANETONE PARA OS POBRES...