CRÕNICA DE UM ESCRIVINHADOR DESINLETRADO
Zé Uóston
Poisé. Eu sempre pensei que esse negócio de escrever poesias, causos, histórias... Tudo isso foci coisa de gente que não tem o que faze. Olha cumoé que eu era besta. Mas, não era só eu não. Ainda tem muita gente besta poraí.
Entonces promode não incumpridar a história, eu vou contá cum e qui foi que eu tive a idéia di escreve as coisas que eu entendo, as que eu não entendo, e o que passa pelaquí no meu bestunto. Escrevê, até qui não é tão difíci assim. Basta a gente i pensando, pensando, e passando pru papel, sem procurar muitos fuloriados. Eu só tomei coragem, porque, o Seu Uilsom... Seu Uilson é um dotô que eu conheço. Mas, não é doto de curá a gente não. Ele é dotô de um negócio lá que eu não entendo, mas deve se importante pra daná. Disqui o cabra tem qui estutá pra mais de oito anos. I lê uns livrão , mas grosso qui os livro do padre, ainda mexê nuns aparelho que gente capial cumo é qui nós é, tem medo até di olhá.
Mas, eu tava fazendo uns trabalho lá na casa dele, sabe comé... Nós qui não tem muito estudo, tem qui sabê uma porção de coisa de serviço pesado. Eu que só de cabo de enxada, tenho pra mais de quarenta anos, levo na brincadeira.
Era pra cavá um buracão enorme, promode fazê uma cisterna.
Eu e meus companheiros trabalhemos com vontade das sete às onze e meia, mas a terra, era uma terra dura do cão, e o trabalho não estava rendendo muito. Fiquei até com medo do omi achá, qui a gente tava molengando, só pra esticá as diária. Quando ele foi lá vê, comé qui tava os trabalhos, daí é qui eu vi, qui o omi era entendido mesmo naquele negócio que ele era dotô
Disse pra nós, que era assim mesmo, aquela era um tipo de terra cheia de cascalhos, e falou lá uns nomes, que a gente não entendemos nada, mas fiquemos balançando a cabeça, e fazendo cara de inteligente.
Daí, ele chamou todo mundo pra almoçá.
Depois do almoço, qui a gente comemos com vontade, foi cada um se encostando por lá mesmo , pra fumá um cigarrinho, i contá umas prosa. Nesse negócio de prosa, não é pra mi gabá, mas, eu sei contá uns causos, qui é du sujeito ficá matutando, e com cara de besta.
Eu tava acabando de contá, a historia de uma caçada de onça lá no sertão da Bahia, e já ia emendar numa outra de pescaria, quando eu peguei uma sereia por engano, e quase que fico morano pra sempre lá no fundo do rio... Foi aí que eu percebi que o seu Uilson estava ali assuntando, e ouvindo a história. Eu fiquei foi muito do sem graça, parei a história no meio. Eu tava ali pra trabalhar, não pra contá história.
-Conta o resto da história Zé Uoston! Como é que você interrompe a narrativa na melhor parte. Agora eu quero ouvir até o fim. Ta claro que eu perdi um pouco o rebolado, mas, já que ele tava dando ousadia... Fiquei tão empolgado, que até enfeitei umas passage com uma mentirinha ou outra, só pra animar. Seu Uilson riu um bocado da história, e quase que a gente passemos da hora di voltá pro trabalho.
Os pessoal voltaram cheio de disposição, mesmo assim, ainda tinha muito buraco pra cavá.
No dia seguinte, o diabo de buraco já passava um pouco do meio, e do lado, já estava se formando uma montanha de cascalho. Daí eu fui perguntar pro seu Uilsom, se ele queria aproveitar aquela cascalhada toda, promode aterrar alguma coisa.
-Eu já estava pensando nisso, Zé Uoston, mas, vamos deixar pra quando o primeiro serviço estiver acabado, mas gostei da sua iniciativa.
Daí eu saí todo prosa, di ganhá uns pontos com o patrão.
Depois do almoço, os pessoal sempre gosta de ficarem encostado, fumando, e contando lorota.
Omi seu menino! Eu não quero sê mais do que ninguém, mas em matéria de lorota, eu é que não gosto de ficá pra trás.
Comecei contando um causo de uma briga que eu entrei, por conta de uma mulata. Esse causo de assucedeu num forró em Campina Grande, foi quando eu apliquei um bofete tão forte na venta de um sargento, que a cara do sujeito virou de lado, e ainda caiu duas divisas do braço do desinfiliz.
Seu Uilson, que estava por ali assuntando o trabalho, e ouvindo as histórias, deu a maior gargalhada.
-De onde você tira estas histórias, Zé Uóstom?
-De lugar nenhum não, Seu Uilsom. Tudo isso é umas historinhas bestas, que eu vou inventado, pra faze o povo ri, e assim a gente vai alegrando a vida.
-Então porque você não escreve essas histórias e causos que você inventa. Pode até escrever um livro.
Se eu não conhecia o Seu Uilsom um tempão, ia pensar que ele tava zombando de mim. Mas, ele falou tão sério, que eu fiquei sem saber o que dizer.
-Dá não senhor. A única caneta que eu tenho intimidade é o cabo da enxada. Se eu tentar, o povo vai ri de mim, e eu vou passar é muita vergonha.
-A coisa mais comprida que eu consigo escrever, é uma lista de quitanda.
-Então, eu vou lhe dar um caderno, e algumas canetas. Você vai escrevendo do seu jeito, depois eu vou ler, e o que eu não entender, depois eu lhe pergunto, e o que estiver errado, eu vou corrigindo. Tá bom?
Olha que eu achei aquela idéia danada de besta, mas o seu Uilsom é um cabra tão camarada, que eu não tive coragem de dizer não.
Quando eu cheguei em casa, tomei banho e jantei, abri o caderno, e fique olhando, sem saber o que fazer. Aquelas folha branquinhas, dava até pena sujar com os meus garranchu. Me alembrei da última coisa que eu escrevi na minha vida. Foi uma placa que dizia: CAXORRO BRABO.
E a mulher já pensando que eu estava ficando doido.
- Que biabo você está fazendo aí, olhando pra esse caderno? Andou bebendo omi?
- É que eu agora vou sê escritô, o Seu Uilsom falo que eu posso, entonces, eu posso...
E garrei escrevê tudo que me passava pela cabeça. Quando já estava com a vista doendo, fui dormir, e fiquei sonhando com uma porção de histórias que eu sabia, ou que tinha inventado. Um montão de coisas presas na cabeça, e é só botar no papel.
No dia seguinte, entreguei o caderno pro seu Uilsom, e fui cuidar do meu trabalho.
Eu estava tão cabreiro, que depois do almoço, eu nem fiquei proseando com os companheiros, nem tive coragem de perguntar se ele tinha entendido os meus garranchos.
Seu Uilsom que veio falar comigo. Olha aí, Zé Uóston, gostei muito das suas histórias. Você já pode ser um escritor.
-Mas, o senhor me diga uma coisa. Pra ser escrito, o cabra não tem que estudá, i sabe os fuloriados das gramáticas, e dos ypicilones?
- Pra ser professor precisa, mas para ser escritor, basta ter idéias e saber narrar uma história, isso você já sabe.
-/Entonces o senhor vai corrigir as coisas que eu errei, e vai botá tudo certinhos nos apreceitos da linguage, e das gramáticas?
_ Não vou mexer em nada, se eu entendi tudo, todo mundo vai entender. Não posso mexer no seu estilo, para não tirar a originalidade.
Daí, eu fiz uma cara de inteligente, mas, eu não estava entendendo era nada.
Foi o seu Uilson mesmo que botou o meu nome no site, e está me ensinando, a fazê tudo sozinho, e até mexê no computadô. Olha cumé qui eu to ficando besta! Si os sinhores não arrepararem nos meus erro, vou continua escreveno.
Como diz o seu Uilsom: Quem fala bonito demais, ninguém acredita nele.