É SÓ PARA FUNCIONÁRIOS

("... e de beber a quem tem sede")

Dia 16 de março estive em uma loja de eletrodomésticos para adquirir um ventilador. Bobagem. Bobagem também informar que a dita casa do comércio aracajuano fica situada no Calçadão da João Pessoa. E tolice maior ainda seria dizer por que e para que precisava do eletrodoméstico. Entretanto, não é bobagem e nem tolice o que direi a seguir.

Ao chegar ao caixa para efetuar o pagamento, solicitei a um funcionário que conversava com um colega de trabalho que me oferecesse água. Pouca ou nenhuma atenção me dando, esse rapaz disse para me dirigir ao fundo da loja e lá eu beberia água. Continuou, além de me dar desprezo, a trocar ideias com o outro. Aquilo entornou em mim e comecei a reclamar. Reclamar, não, educar.

Falei que não iria ao fundo da loja e que gostaria de tomar a água ali, frente ao caixa onde esperava um casal que, aproveitando o momento, furou a fila. Acrescentou o comerciário o seguinte: Quem foi o funcionário que atendeu a senhora? Vejam vocês que pergunta me fez o insolente. Respondi que a moça se encontrava na frente do estabelecimento. Achando pouco, ele me sugeriu, sem me olhar de frente, que fosse solicitar o líquido à colega que havia me atendido.

A essa altura, eu já estava mais alta do que avião em pleno voo internacional, as turbinas fervendo. Não vou. Aqui a água é para os funcionários. Não tem para os clientes. Ah, sei. E do dinheiro do cliente o comércio gosta. Quero a água aqui, chame o gerente. Chega, chamem o gerente. Mais debate, teimas, pode, não pode, dá, não dá, certo, errado. A água é para os funcionários. Vá lá, fulana, em todo caso, traga água. É dos funcionários, quer assim mesmo? Sim, funcionário é gente como eu. Estou com sede e quero, sim. A cabeça já queria cancelar a compra. Ou me dava ou me dava, era já uma questão de honra. Outros olhavam pra ver quem ganhava na questão.

O senhor sabe que o cliente tem razão. Conhece o CDC? E nem venha dizer que o CDC não manda que a loja me dê água, mas é muito claro quando se refere à vulnerabilidade do comprador. Pois fique sabendo o senhor que aqui está tudo ao contrário da lei e dos conceitos modernos. Estão treinando erradamente o pessoal. E tem mais, vocês estão dando um péssimo exemplo a esta juventude. Que tipo de loja é esta? Se chegar um mendigo em minha porta e me pedir eu dou, e o senhor quer me convencer de que está certo? Não está. E me ofereceram um copo plástico com água quente, assim como se eu fosse um cachorro. Não, cachorro não, esse é bem tratado. Só pode ter sido retaliação. E as leia sendo espezinhadas.

Moço, se eu vou ao mercado comprar um requeijão, o vendedor me oferece um pedaço para provar e aqui o senhor nega água ao cliente. Como pode ser? Sabe o que o senhor tinha que fazer? Sair daí e providenciar comprar água, não só pra mim, mas para todos os consumidores de seus produtos. E tem mais, deveria também servir gentilmente um cafezinho.

Meio mundo de gente já esperando o resultado final da contenda. Quando alcanço a porta de saída, um grupo de mocinhas, na certa percebendo o meu estresse, se aproxima e uma delas pergunta fingidamente: A senhora já foi atendida? Foi a conta. Aproveitei para falar mais e deixar por lá a minha revolta e o meu ensinamento.

Mas a senhora não pode falar da loja, o dono não tem culpa, ele nem sabe disto. É coisa de funcionário. Comprovada a minha tese: a moça falava mal do colega.

Outro dia tive um momento desses numa loja de operadoras de celulares que me impediu de usar o toilette sob a mesma louca desculpa: É PARA OS FUNCIONÁRIOS. Perdi o rumo e disse: eu queria sofrer de incontinência urinária e fazer uma poça aqui neste hall.

Moral da história: antes de comprar em qualquer estabelecimento comercial, pergunte, mesmo sem necessidade, se tem água para os clientes e se pode usar o toilette. Se disserem não, saia imediatamente de lá. Não compre sequer dez centavos nesses lugares.