Missa

As pessoas passavam, mas ninguém lhe dirigia a palavra, nem esboçavam um cumprimento; ninguém ensaiava sequer um sorriso...As pessoas passavam como se estivessem num domingo, apressadas como se fossem para a missa. Missa não é coisa que se perca! É necessária uma concentração especial...chega-se, senta-se, e se fica em intensa expectativa olhando as imagens, sem passar pela idéia, de que os artistas que as produziram, muitas vezes, estavam com fome e sede... ou estavam com a cara cheia de bebida...Sabem que os artistas costumam beber em demasia? Apesar disso, as imagens dão-nos a impressão de já estarmos no céu, ou na pior das hipóteses, no purgatório...Semblantes piedosos...Muitas vezes chorei seguindo a procissão do encontro, em que a imagem de Cristo se encontrava com a de Maria...O gesso das imagens ficava úmido com as lágrimas santificadas...É bom meditar no silêncio da igreja, mesmo que saiamos dali para apoiar matança de perigosos marginais...Pode-se até dar esmola na rua...Aquela mulher poderia enfrentar um tanque de roupa...Aquele poderia mirar-se em Aleijadinho ou no físico genial, que apesar de torto chegou a casar duas vezes, entre um e outro cálculo fantástico de física; poderia imitar Einstein, botando a língua de fora num sinal e pedir esmolas...Fugi do assunto...O fato a ser declarado é que ninguém, nenhum dos passantes lhe dirigia a palavra, ou esboçava um cumprimento, ou sequer ensaiava um sorriso. Tenho certeza de que o grande artista Antenor de Oliveira se inspirou nele para fazer a belíssima escultura em barro com a qual me presenteou – velho com chapéu e muleta.