Vida a quatro
A vida a dois tá difícil de encarar?! Pois senta aí em frente ao seu laptop e multiplique tudo por dois, que o lance agora é a vida a quatro.
“Eu e você, você e eu”? Que nada. Isso é passado. Os problemas afetivos atuais são facilmente rendidos pelo bom e belo quadrado perfeito: Você – no caso eu, porque tenho que supervalorizar a primeira pessoa do singular, seus (meus) dois namorados e o computador.
Sei que aqueles dois namorados citados acima talvez reflitam uma imagem um tanto promíscua de mim. Mas todos sabem que a vida tá dura e com toda essa distância, iria haver mais carência que amor. Então, o sistema eficiente do mundo virtual, que pensa e resolve tudo por nós, tratou de não deixar espaço para solidão.
A felicidade tinha mesmo que vir assim: Toda embalada por um número par mais amplo e eficiente que o dois. Como não percebi isso antes?! Teria economizado incontáveis lágrimas e um precioso tempo.
Vou experimentar! Por que não?! O máximo que poderá acontecer é não dá certo. E isso é o de menos, pois cara quebrada eu já aprendi a consertar. Sem falar que também terei um seguro - ou segundo, se preferir chamar assim.
Vai, confessa... Diante de todos esses atrativos não há quem possa resistir.
Para falar a verdade, poucas coisas em minha vida aconteceram tão fácil assim.
Existe algo melhor do que alguém para compartilhar todos os bons e maus momentos?! Claro que não.
Por falar em momentos, uma amiga deu-me umas dicas imprescindíveis para fazer o relacionamento parecer, inconscientemente, mais íntimo. Partindo da idéia que podemos está conectados a qualquer hora e qualquer lugar, se assim desejarmos. Isso vai inclui também os mais privados da sua vida que, normalmente, não divide com ninguém, como por exemplo o number one e number two. Sem que seus amores compartilhem o lado sujo e nojento do processo. Achei tudo, no mínimo, muito estranho, confesso. Contudo, não irei discutir com uma expert no assunto. Afinal, essa nova era é prática, porém tem suas peculiaridades. Talvez em época alguma privacidade e intimidade estiveram tão próximos assim.
De início é tudo leve. A rotina e as perguntas corriqueiras e imprescindíveis para conhecer alguém são puladas. Não há motivos para perdermos tempo. A vida é curta!
Sem falar da vantagem de ter encontros sem precisar gastar horas e horas com produção, mais horas e horas para estacionar o carro, outras tantas esperando a refeição chegar ou na fila do cinema ou em lugar lotado sem poder conversar e com bebida quente. Enfim, existe uma economia incalculável de tempo e dinheiro, sobrando amor para dar. Ah, tudo isso no bom e velho aconchego do seu lar e do seu pijama preferido quando o tempo não estiver propício para uma exibição via web cam.
O conto de fadas durou um certo tempo até os meus ferozes desejos ficarem à solta por aí. Até os mais leves e sutis começaram a ficar longe de serem satisfeitos. Foi nesse exato momento que percebi que não queria mais dois e sim quatro amores. Quatro de quatro por mim. Vida a seis. Entende?! Nem eu. Mas relaxa que a vida é assim mesmo, meu bem. Ainda tinha muito espaço vazio, e nada melhor do que preenchê-lo com mais janelinhas abertas no messenger.
A história continuou até necessidade de novos relacionamentos chegar ao limite máximo. E de longe , dava para ver que era um conjunto infinito de confusões e mentiras ensaiadas e vazio de sentimentos reais.
Ainda bem que quando o caos estava prestes a, realmente se instalar, a conexão foi interrompida. E para sempre, espero.
De olhos abertos para o mundo real, vejo que não tem como o amor continuar a quatro, é muito número e acaba ficando pesado. Ninguém consegue carregá-lo por toda a vida. Voltarei ao número par que é clichê assim como eu. Que diz cara a cara, olho no olho, um “Eu te amo” difícil de sair, gago, com a voz meio trêmula, mas que vem direto do coração e que não soa como o “Bom dia” ligado no automático, proferido pelo caixa da padaria da esquina. E melhor, esse eu posso namorar de mãos dadas, sentada na calçada de uma alguma cidadezinha de interior em algum tempo longínquo e feliz.