Dialética da Incongruência
Difícil imaginar um mundo de meias verdades. Os intelectuais de todos os quilates, quando são questionados sobre a validade e autenticidade de seus temas, colocam a mão no queixo e, com um olhar de desprezo cósmico, sentenciam: - “A verdade é relativa.”
A relativização da verdade, ou seja, daquilo o que é fato, torna-se a mola mestra de uma incongruência dialética a qual permite direcionar um fato para qualquer interesse. Muito fácil falar a verdade quando a verdade serve como o contexto das intenções e, em última instância, serve à própria mentira.
Alguém me pergunta: - “Então você acredita na verdade absoluta?”. Sim. Acredito na verdade absoluta. Tomemos um exemplo simples: um plástico e diáfano soco na cara. Ora, independente do contexto, independente da cultura, independente da burrice de quem quer que seja, um murro nos córneos não pode ser uma demonstração de afeto maternal. Buscar as razões do soco, as causas e conseqüências, enfim, buscar as circunstâncias desta ação não desqualifica, de maneira alguma, o ato de agressão.
Ora, e por que estou dizendo isso? Simples: Uma vez que nem eu, nem você temos compromisso com a verdade nua e crua, toda e qualquer manifestação de seriedade configura apenas um ato de conveniência. Esta é a base de muita propaganda oportunista com ares de informação. Quando órgãos públicos se usam deste mesmo artifício – atenuar e acentuar circunstâncias em nome da relatividade do fato – vê-se que a transparência estatal não passa de um nome o qual um sem número de partidários terá de reverenciar sem valores de juízo.
O mesmo se passa nas universidades, onde verdades relativas servem para sustentar teses mais compromissadas com um ideal qualquer do que com o zelo acadêmico da pesquisa. Não à toa, nossos núcleos de pesquisa se renderam nas últimas décadas às mais desvairadas vaidades, tudo por um título. Por um título. São as nomenclaturas mais cretinas como “a pós-sensibilidade em fulano de tal”, “O meta-obscurantismo asmático do século XX”, e por ai vai. O mesmo se sucede às artes e as ciências. Dependem ambas deste desvario intelectual.
Mas eu falei de propaganda pública e nela insisto. Um estudante mente por conta própria, uma empresa, apesar dos pesares, também. Mas ver o governo mentir é desesperador. Quando o Brasil depende de um futuro construído na mentira, perdemos referência. A referência, a verdade de como estamos e para onde vamos é indispensável para a construção de um país estável, de um projeto de construção nacional. Infelizmente acostumamo-nos aos ditames de um engodo eleitoral que se repete todos os anos, num frenesi de sonhos e esperanças. Sonhos e esperanças populares.