TIRANDO A MÁSCARA

Há aproximadamente dois anos dei um depoimento a um jovem sobre a minha tendência de “atéia conviccta”, o qual foi publicado no You Tube e gerou comentários totalmente inesperados. Fiquei muito surpresa com o resultado, pois diferente do que eu pensava existem muitos ateus, só que com medo de exporem suas idéias.

Fui bastante elogiada pela minha “coragem” de fazer a revelação, levando em conta, também, minha “idade avançada”, ou seja, mais de 70 anos. Evidentemente, também surgiram os comentários desaforados e até palavras de baixíssimo calão – a maioria vinda de jovens ou fanáticos, revoltados com minhas colocações.

Não considero um ato de coragem eu me haver declarado atéia, muito menos uma surpresa para quem me conhece. Apenas estou acompanhando o dinamismo de uma época, em que as máscaras são tiradas e as pessoas mostram-se, de peito aberto e enfrentam a berlinda.

Há muitos anos tirei minha máscara e assumi minhas

convicções e lamento não haver feito isto antes. Jamais senti-me rejeitada pelos amigos. Isto, talvez, porque sempre que participo de um grupo – inclusive os religiosos – apresso-me em colocar minha “não religiosidade”, evidenciando, ainda, não aceitar doutrinação de espécie alguma, porém dando plena liberdade aos participantes de me excluir, se assim o quiserem.

Felizmente nunca aconteceu uma atitude hostil e, também ninguém tentou me converter. De minha parte, evito ao máximo discutir qualquer assunto ligado à crença dos outros.

Sou cantora e, como tal, participo de corais e me apresento em shows individuais. Nessa arte, voluntariamente, coloco-me à disposição de casas geriátricas (na sua maioria, católicas) que queiram alguém para cantar “com” os idosos (não para os idosos). Se tiver que cantar num casamento ou outro ritual religioso (já cantei numa missa de 7º dia numa igreja católica) eu vou e mantenho o respeito ao local. Portanto, ser ateu não é o fim do mundo, muito menos degradante, como muita gente pensa. Nós apenas nos sentimos responsáveis por nossos atos, pois não temos a quem culpar ou invocar quando erramos.

E, cá prá nós: nossas vitórias têm outro sabor...