NOSSOS MORTOS
... y asi seguimos andando
curtidos de soledad
y en nosotros nuestros muertos
p’á que nadie quede atrás...
(Atahualpa Yupanqui/Los Hermanos)
Minha avó, na sua sabedoria proverbial, citava uma frase positivista, mais ou menos assim: Os vivos, cada vez mais, são governados pelos mortos.
Realmente, embora tenhamos ido à Lua e progredido em vários campos, desde o social até à espetacular tecnologia que nos é imprescindível, hoje em dia, cada passo deste progresso tem início numa descoberta ou teoria de um ancestral.
Frases que aplicamos no dia-a-dia - seja na vida particular ou, eventualmente, junto aos que convivemos em outras circunstâncias - seguidamente são “bordões” que herdamos dos nossos pais, que por sua vez ouviram dos seus, etc, etc; formando,assim, uma cadeia com elos e ecos longínquos.
Obviamente, não conheci a avó da minha avó, mas quem me ensinou a lavar bem o assoalho foi ela...
Teria meus dez anos, mais ou menos, quando recebi os ensinamentos: “minha avó ensinou que deve-se escovar sempre em sentido vertical (nunca circular); não deixar margem entre uma escovada e outra e, principalmente, trocar a água muitas vezes para o chão não encardir”. E olhem que “naquele tempo” o assoalho era de madeira.
Creio que cada família preserva, como uma herança preciosa, não só os velhos adágios ou as antigas crendices que nos acompanham pela vida, mesmo as mais ridículas. Duvido que alguém possa afirmar, sinceramente, jamais haver dito um simples ditado conforme a situação o provoque.
É que, como canta Atahualpa Yupanqui na lindíssima canção difundida por Mercedes Sosa: “ assim seguimos andando, curtidos de solidão; e conosco nossos mortos, prá que ninguém fique prá trás”.