Zé das Dores e Ronaldo Fenômeno
Zé estava cansado de sofrer, ganhando salário mínimo trabalhando doze horas por dia e ainda tinha que enfrentar a espera dos Ônibus descontrolados em Montes Claros. Não suportava mais o fardo de chumbo nas costas, muito menos a indiferença da sociedade com sua situação lastimável. Resolveu se matar! pensou na frase que dizia ser mais fácil um Camelo passar pelo fundo de uma agulha, que um rico entrar no reino dos céus.Assim teria as portas do céu arreganhadas a seu favor de tão pobre que era. , mas queria uma morte chique! pensou em abraçar o Prefeito com o corpo recheado de dinamites, em nome das vitimas da Dengue e morrerem juntinhos despedaçados como seres iguais, mas iria transformar o queixudo em mártir e sua memória em merda maior. Isto não era bom.Tomaria veneno dentro da Catedral em missa das cinzas, mas também não se convenceu pois seria violentamente excomungado, também não queria iniciar uma quarentena de pesadelos para aqueles fiés de linguas-de-jiló. O insight eclodiu nos pensamentos emaranhados e o conduziu a idéia de saltar-se em frente a um carro de luxo, o mais caro que pudesse imaginar e lá se foi Zé das Dores para as imediações do viaduto da Siom. E do cair da tarde até as 23 horas não passou nada além de estressados empregados vindos do trabalho em seus transportes antigos. E a idéia da morte atormentava, pois não poderia desistir já que havia espalhado as cartas de despedidas. E continuou andando, passou em frente ao mega-supermercado que engoliu a Vila Ipiranga e viu placas de promoções que fatiavam suas poucas e ultimas horas, e as telas de proteção parecendo jaulas, que aprisionavam um Minotauro escurraçado da mitologia para o labirinto do Capitalismo. Pouco acima eis que surge aquele carro que selaria sua sina, uma Ferrari preta 250 GTO, que pelo brilho valia mais de um milhão de reais, vinha de uma rua escura onde pessoas recostavam numa grande pedra feito cágados saindo dos lagos para respirar. Um salto na frente e um freada brusca, que ancorou a máquina as rodas travaram que não
seguiram um centimetro a frente. Zé das Dores não morreu mas em compensação ficou frente a frente com uma dos maiores ídolos do futebol mundial, ex-Cruzeiro e diversas outras equipes o Corinthiano Ronaldo fenômeno estava como de costume com seus travestis armados para festa.Zé Implorou deitado no chão que o atacante lhe esmagasse o crãnio para que morresse dignamente, e contou que era muito pobre. Ronaldo sorriu com aqueles dentes enormes e disse ao desconhecido que ele não sabia o que estava dizendo, que a liberdade é o mais valioso dos bens, então contou sua história, seus gols perdidos e sua barriga de Brahma, mas acima de tudo a prisão social que era submetido, não aguentava mais o machismo do futebol, principalmente depois que Hélio dos Anjos ex-técnico do Góias, falou suas asneiras preconceituosas, repercutindo na sensibilidade de Richarlysson do São Paulo. Ele queria uma esposa que ele pudesse acariciar os culhões e praticar a simbiose, acordando sem culpa. Zé das Dores olhou para o jogador, olhou para os acompanhantes e sorriu liberto da paranóia devedora. Saiu dalí pulando feito Chapeuzinho Vermelho ruma a casa da vovó, e nunca mais quis reclamar da vida. Moral da História Nem sempre aquele que ganha mais, já ganhou o suficiente para seu prazer.