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O SIGNIFICADO DA VIDA...
Sabia quando aqueles olhinhos não paravam de me fitar é que seria a sessão “tudo quero saber”. Fosse a pergunta que fosse, ela queria saber. Embora algumas vezes nem eu soubia lhe dar as respostas. Ela não se contentava com engodos, queria entender os porquês de tudo. Por isso me esforçava ao máximo para lhe saciar as curiosidades próprias da idade.
Naquela tarde não foi diferente. Justo no dia em que eu também buscava respostas para os últimos acontecimentos, aproximou-se de mim e foi segurando minha mão alisando-a com ternura. Senti que comparava a minha mão com as dela. Aquelas mãozinhas perdiam-se na palma da minha. Duas vidas que se completavam, porém, seguiam por caminhos distintos, cada uma no seu tempo. Enquanto minha bagagem de passado estava cheia, a dela de presente pouco havia.
Distraí-me por um tempo entre nossas fases de vida. Não durou muito tempo minha divagação, pois o silêncio foi quebrado com uma pergunta surpreendente:
- Por que temos que morrer?
Estranhei por vir de uma menina de cinco anos. Por mais evoluídas que estejam as crianças, ela era só uma garotinha preocupada com a morte. Logo ela que havia tão pouco tempo de vida. Fiquei preocupada, porém, lembrei-me que a avó da Sarah, sua amiguinha do III Estágio, havia falecido dias antes.
Parei por alguns instantes pensando quantas vezes quis saber a resposta para aquela mesma pergunta – por que temos que morrer? - . Era como se a vida pregasse-me uma peça pondo-me diante de questões cujas perguntas nunca obtive respostas concretas. Para que minha filha não crescesse com aquele vazio, com uma lacuna inquietante e incômoda, tentei ser mais convincente dando-lhe boa explicação.
- Meu bem, veja quantas árvores e plantinhas que existem. Todas elas foram sementes que esperaram pacientemente até o tempo bom, até o momento certo para nascerem e se tornarem árvores para nos dar saborosos frutos ou uma planta para nos presentear com lindas flores. Acontece que se as sementes crescessem todas de uma só vez, não haveria espaços para caminharmos porque todos os lugares estariam ocupados com nova árvore a cada amanhecer. Por isso que as plantinhas e árvores um dia murcham, secam e morrem. Elas tiveram seu tempo na Terra. Cresceram verdinhas e felizes, deram bons frutos e, depois de tudo cumprido, de terem servido de sombra, de alimento, de enfeite para nossos olhos e de aroma perfumando-nos a vida, elas partem embora cedendo espaço a novas sementinhas para que cumpram seus destinos renovando a vida no Planeta. O mesmo acontece com as pessoas. Nascemos, crescemos saudáveis e felizes, depois de cumprirmos nossas missões, partimos para que novas sementes que são os bebês, continuem florindo, perfumando e frutificando a Terra com boas ações e renovado amor.
Após terminar minha explicação, senti que a mãozinha antes segurando a minha, afagava-me a face e um beijo quente recebi. Depois fui envolvida com um abraço. Minha filha nada disse. Ficou por um tempo com a cabecinha recostada em meu ombro e as mãos acariciavam minhas costas. Parecia que buscava palavras ou arrumava as ideias depois de tudo o que ouviu. Retirando a cabecinha do meu ombro, olhou-me com suavidade dizendo:
- Mamãezinha, seja uma árvore forte e aguente bastante tempo por aqui porque eu ainda vou precisar muito da sua sombra, tá bom?
Com aquelas palavras certifiquei-me de ter atingido meu objetivo. Ao menos minha filha não cresceria com aquele vazio inquietante na alma de pergunta sem resposta. Ela havia entendido o sentido da vida, sobretudo, o da morte.