Brincando de envelhecer

Quando menos se espera, a velhice aparece a passos quase inaudíveis por trás de você, dá um tapinha no seu ombro e fala em alto e bom som: “Queridaaa, Cheguei!!”, com a certeza de uma permanência (quase) eterna. E você começa a pensar como seria bom se essa frase continuasse pertencendo somente ao Dino da Silva Sauro da Família Dinossauro. Ah, o Dino. Tempos bons. Infância, lembra?!

Hoje, justamente hoje, deparei-me com uma coleção de cabelos brancos na minha cabeça. Como eles puderam chegar tão depressa e, pior, sem avisar. Quero que esses intrusos saiam de cima de mim, não são bem vindos aqui.

Acho que eles chegaram para abrir caminho para uma destruição em massa. Logo, logo os peitos vão cair, a bunda e todo o resto até que uma vida inteira esteja a sete palmos debaixo do chão. Vale ressaltar que essa lei se aplica aos homens também. O pior no caso deles não é cair e sim não levantar.

Por enquanto, eu sei que posso suportar. Talvez porque sinto que a dimensão do meu futuro ainda é maior que a do meu passado. Agora, são vinte e poucos anos. E quando forem sessenta e muitos?! Quem poderá me defender?! Se nem restará ao menos o Chapolin Colorado?!

Não é que eu tenha certa recusa de sair da confortável vida intra-uterina, da inatingível barra da saia da mamãe, da permanente infância, adolescência e coisas afins. Não é nada disso. Eu só tenho medo de não saber envelhecer.

Vou mesmo ter que ir com freqüência ao médico?! E como vou saber diferenciar tanto remédio?! Vou ter alguém para cuidar de mim sem que eu precise pagar?! Vou usar bengala?!

Enquanto não encontro essas respostas, vou aproveitar meu tempo para usar os médicos apenas para namorar, os remédios apenas para emagrecer, porque as bengalas no momento são apenas de chocolate. Infelizmente, poderiam ser feitas de algo mais útil.

Acho que tenho mais algumas dúvidas: Onde está a Terra do Nunca?! Terra Prometida, Jardim do Éden, Jardins Suspensos... ?! Será que alguém pode me informar onde ficam?! Queria está em todos ao mesmo tempo. Aqui e agora. Enquanto o tempo está a meu favor.

Pelo visto, as minhas dúvidas são infinitas e as respostas inexistentes. E enquanto estou me preocupando demasiadamente com a subtração diária dos meus anos de vida, a velhice não pára de rir de mim. Então, dançarei conforme a música. Se é para brincar, a gente brinca. Se ela quer ser o Dino eu vou ser o Baby. Gritar irritante e insistentemente: “Não é a mamãe! Não é a mamãe!..” . Até a voz acabar. Criança?! Eu?! Eu disse, meu bem, que não sirvo e não sei envelhecer. E antes que pensem, mesmo parecendo, não tenho vontade de ser o Peter Pan , não ( nem o Baby!). Deus que me livre e guarde. Apenas a Ranger Rosa. Mas isso só quando eu crescer.

Talita Souza
Enviado por Talita Souza em 22/02/2010
Reeditado em 26/02/2010
Código do texto: T2100866
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