ESPELHO

Só hoje notei que há muito tempo não “me vejo” no espelho, apenas olho rapidamente a minha imagem e nem sempre dou atenção a ela. Esporadicamente, ao fazer uma maquiagem, em ocasiões especiais, fixo os olhos nos meus olhos para poder pintá-los.

Nunca fui escrava da vaidade, talvez por ter consciência de que meus dotes físicos não se comparavam a nenhuma beldade, embora também não lembrassem um Quasimodo, por exemplo.

E assim, vivendo uma vida considerada padrão no que se referia a beleza, sempre contei com uma espontaneidade natural – que não me abandonou, ainda, felizmente -, conseguindo atravessar as fases em que a mulher questiona seu amadurecimento e, inevitavelmente sua aparência, aceitando – ou não – as modificações que o tempo impiedoso lhe impõe.

Ouvi – sei que foi um homem, não lembro quem – que uma grande beleza física ao envelhecer é, figuradamente, como sair da plena claridade e cair na densa escuridão. No entanto, tratando-se de uma beleza como são as temporais (meu comentário: hoje mais ou menos, amanhã, quem sabe?) essas, de acordo com a opinião acima, vão saindo lentamente da penumbra para a escuridão e nem se dão conta das alterações.

Sábias palavras, com as quais concordo plenamente, principalmente se o espelho entra como parceiro delator das alterações que a idade providencia. É uma ruguinha aqui, uma verruguinha atrevida em local mais que visível; as adiposidades inconvenientes em locais mais inconvenientes ainda...

E adianta reclamar? Prá quem? Enquanto der, quem se atreve faz “lipo”, aplica “botox” , “silicone” e outros mais.

Como disse nosso amigo, “sai um pouquinho da escuridão, mas volta em seguida com as suturas dolorosas”.

Melhor, mesmo, talvez seja não ser tão bonita(o) e encarar as mudanças esportivamente. Quem sabe, aprimorar o intelecto ou fazer algum voluntariado e pensar mais no próximo?...