A ÁUSTRIA E A BELEZA
Pense na pessoa mais feia do seu círculo social. Pois é. Saiba que se esse pessoa morasse na Áustria, ela se acharia bonita. Uma pesquisa revelou que 83% dos austríacos se consideram lindos, ou na pior das hipóteses e em declarações mais modestas: ajeitados.
Estou neste momento pensando seriamente em me mudar para a Áustria. Acredito que dois anos na terra de Freud e eu já me consideraria primo do Tom Cruise.
Homem feio deveria ser proibido de comprar espelho. Aliás, essa inútil peça teria que ser vendida apenas com receita médica. Psicologimente perigoso, o espelho pode levar uma pessoa à morte. Quantos suicídios já não foram cometidos após o maldito objeto ter denunciado traços horrorosos e uma aparência medíocre? Tenho a vil impressão que o espelho tem a vocação do exagero. Nunca se contenta em ser fiel. Nos bonitos, ele dá um toquezinho e os tornam lindos. Já nos feios, rouba-lhes tudo. É um dissimulador da depressão.
Imagine um mundo sem espelhos. Como tudo seria melhor. A mulher amada se aprontaria toda e saberia se ficou linda ou não, mediante o olhar do amado.
- Como estou meu bem?
- Você está linda, maravilhosa. Tire só um pouquinho mais na sobrancelha e diminua o tom do batom.
Uma coisa é certa: os casais reparariam mais um no outro. Não haveria em nenhum lar marido e mulher que ficassem uma semana sem se olhar. Com exceção dos casais cegos. O olhar seria uma necessidade e teria o poder supremo dos julgamentos. É lógico que haveria as más intenções, as críticas maldosas, mas o espelho é mais frio ainda. Não há consolo algum em suas acusações. O espelho zomba e não concorre conosco. Não temos a pretensão de derrota-lo.
Claro que na Áustria os espelhos estariam liberados. Turisticamente, seria conhecida como o País dos espelhos. E utopicamente para mim, o país ideal para residir este humilde operário das letras.