No almoço de domingo (5) - Risoto de Jerimum
Como transformar um mexidinho vagabundo em um banquete
Nem pense realmente que eu tenho a receita para fazer isso é só uma brincadeirinha semântica – é só mudar o nome do reles mexidinho aproveitador de sobras da semana e anunciar o almoço como sendo um Risoto. E até que, se eu não soubesse que o verdadeiro risoto exige arroz especial eu poderia fazer isso sem culpa, pois muita gente boa na cozinha acredita que arroz empapado é risoto e assim já fui convidada para almoçar.
Acordei tarde, mas muito tarde mesmo. Se decidisse fazer um almoço que realmente merecesse esse nome eu acabaria matando de fome os meus comensais. Então, fui para a cozinha tomei o meu café com dois pãezinhos redondos de centeio, fabricados em minha Fábrica de Pães, com cottage e geléia de goiaba diet. Ainda comi uma fatia de abacaxi, uma banana raquítica e meio mamão papaia. Sem fome fui ler o meu jornal, melhor dizendo os meus jornais, pois li o de sábado e o do domingo deixando o domingo correr manso. Pensei: acho que não vai aparecer ninguém para comer hoje, mas mal pensei e a irmã número quatro, que também é a do meio, chegou com cara de fome. Fui então para a cozinha e esvaziei a geladeira colocando para fora todos os potinhos que encontrei: Tinha arroz, abóbora madura cozida, restos de couve flor, pedaços de frango ensopado e uma sobra de saladinha de tomate e alface temperado com cebola e azeite. E agora pensei, o que vou fazer? Provavelmente algo tão ruim que ninguém vai comer. E então comecei a brincar.
Primeiro retirei os ossos da carne e os joguei fora. Piquei bem picadinha a carne do frango e juntamente com o caldo coloquei na panela para fritar mais um pouco. Enquanto fritava coloquei ali a sobra da couve flor refogada no azeite, piquei os tomates em pedacinhos minúsculos e junto com a cebola e o azeite coloquei na panela onde já fritavam os outros ingredientes.  A alface joguei fora. E agora viria o ponto chave – a abóbora. Amassei-a bem amassadinha e joguei na panela, mexi e pinguei um pouquinho de água para ralear. Experimentei o tempero e por alguns minutos fiquei indecisa: esquentar a sobra de arroz separado ou juntar tudo. Uma decisão extremamente difícil porque se desse errado só haveria uma solução – a lata de lixo. Mas como sou uma mulher ousada, sempre disposta a experimentar coisas novas sem medo das consequência, fechei os olhos e coloquei as sobras do arroz na panela. Mexi bem mexidinha a comidinha e ela foi tomando uma coloração linda! Para completar, ralei queijo catiara e tornei a misturar a mistura já misturada. Piquei cebolinhas de cheiro e salpiquei na comida e fui chamar quem aqui estava para o almoço anunciando: O risoto está pronto. E comeram e quem quis repetiu embora dizendo que aquilo não era risoto era mexido. Mais tarde chegou a sexta irmã, que também é a penúltima, reclamando que eu não a tinha convidado para almoçar, a que eu retruquei – eu não convido para almoçar mexido, mas ainda tem uma sobrinha na cozinha e ela foi e comeu sem reclamar. Quem reclamou foi a do meio, que na hora do lanche foi até a cozinha em busca da sobrinha dizendo: estou até com água na boca pensando nessa sobra. Mas teve que se contentar em comer café com pão.
Lavras, 24 de janeiro de 2010