Crônica da esmola
- Me dá uma moeda, tio? – era magro feito vassoura e mal me chegava à cintura.
Não sabia se tinha moedas no bolso da calça. Mesmo assim, procurei. O bolso estava apertado.
- Calma que está difícil – eu disse para ‘acalmá-lo’. Mas ele não estava com pressa. Achei umas moedas que mal somavam R$ 1,00 e dei a ele. Continuei andando e o vi contando o que lhe tinha acabado de dar.
Preferiria não ter dado dinheiro ao menino. Poderia ter dado comida, em vez disso. Na verdade, preferiria que o menino não me tivesse pedido nada, não por que não quisesse dar, mas por que gostaria que ele não estivesse em tal situação. Mas o que poderia eu ter feito pelo menino? Sei o que ele poderia ter feito com as moedas, e o bordão “dê mais que esmola, dê futuro” lateja na minha cabeça. Rousseau dizia que as obras de misericórdia e caridade valem mais que esmola, mas nem os criadores do bordão nem Rousseau podem fingir não ver a realidade dos meninos de rua. Fiz o que pude para ajudar o menino no melhor sentido. Tendo ele usado as moedas para bem ou mal, de algum modo ele poderia tentar amenizar sua realidade, seja comprando algo para comer ou droga para usar.