Bem que eu tento
Bem que eu tento gostar de mim o suficiente para fazer tudo o que quero e ser feliz. Achar que eu mereço. Assim é que às vezes penso que deveria exigir mais da vida, mas acabo deixando por isso mesmo. Tento fazer aquelas listas mentais relacionando as minhas boas qualidades, mas aí me sinto envergonhada e paro nas primeiras e vou correndo ver a pilha de defeitos que sei de cor com a desculpa de combatê-los e assim, livre deles, conseguir as virtudes correspondentes. É claro que existem coisas das quais não abro mão, tais como gostar da vida de qualquer jeito que ela se apresente, mas nem sei se isso é uma qualidade. Pode ser falta de espírito crítico. Quando olho para o meu passado vejo quanta coisa deixei de fazer e acabo me esquecendo que fiz outras, que tudo foi uma questão de escolha. A escolha pode não ter sido a melhor, mas foi a escolha que fiz e isso deveria me bastar, mas as vezes não basta e eu fico triste pensando na parábola dos Talentos. Tenho ciência de que enterrei os meus e às vezes tão bem enterrados que não tenho mais jeito de recuperá-lo. Mesmo assim não nego que aprendi muitas coisas e que essas coisas eu penso quase sempre que são boas – eu nunca tive pressa para nada e isso eu acho que é uma boa qualidade porque vejo as pessoas se estafando e acho isso tudo muito cansativo. O prendi também a estar sozinha, mas não a ser solitária porque de certa forma aprendi a gostar da minha companhia embora goste muito de gente também, mas às vezes penso que gosto mais de gente a distância do que na presença. Aprendi a desfazer-me das minhas máscaras assim que noto estar afivelando-as ao meu rosto porque o bom mesmo é ser um indivíduo único no mundo, sem igual, embora para isso eu não precise nem ser grande, nem rica, nem famosa. A consciência de que não existe ninguém de verdade igualzinho a mim faz com que eu me sinta orgulhosa e busque cada vez mais a minha individualidade. Está certo, não vou mentir, eu tento, mas nem sempre consigo porque as máscaras são altamente pegajosas e difíceis de serem extirpadas. Bem que eu tento.
E outra coisa que venho tentando e praticamente já consegui é não precisar de ninguém para me sentir ligada ao Universo, parte ativa da Criação através do fragmento divino que habita em mim e ao qual eu chamo de Espírito. Mas apesar disso tudo ainda não me senti segura o suficiente para prescindir da companhia do outro e sei bem disso porque quando tentei aprender a nadar eu sempre tinha de segurar em alguma coisa mesmo que fosse um palito de fósforo. Eu não queria ser outra pessoa, queria ser eu mesma e por isso meu coração fica inquieto quando percebo que na morte não serei mais Maria Olímpia Alves de Melo. Está certo que a essência do que foi essa pessoa que fui eu estará para sempre marcada no meu espírito, mas não serei eu, serei outra provavelmente bem melhor do que fui porque já terá se livrado dos erros que cometi. Mas isso não me consola. Mas eu tento juro que tento, viver no dia de hoje e sem medo do dia de amanhã, pois afinal ele não existe e aí eu fico pensando nessa questão, o futuro não existe, o passado também não, mas o presente, afinal o que é o presente? Um ano, um mês, uma semana, uma hora, um minuto, um segundo ou bem menos que isso? Eu bem que tento, mas não consegui livrar-me de algumas coisas, como da minha indignação, nem consigo dizer não quando quero e digo sim só para fazer o outro feliz, embora o outro não esteja nem aí para a minha felicidade. Embora isso não seja mais tão freqüente assim me irrita quando quero dizer não e não consigo e ainda ponho aquela máscara sorridente no rosto quando a vontade é de chorar. Mas se eu tento e se o que importa é isso, é não desistir, continuar tentando então estou indo, carregando a esperança de que um dia eu consiga.
Maria Olimpia Alves de Melo
Lavras, 23 de janeiro de 2010
Bem que eu tento gostar de mim o suficiente para fazer tudo o que quero e ser feliz. Achar que eu mereço. Assim é que às vezes penso que deveria exigir mais da vida, mas acabo deixando por isso mesmo. Tento fazer aquelas listas mentais relacionando as minhas boas qualidades, mas aí me sinto envergonhada e paro nas primeiras e vou correndo ver a pilha de defeitos que sei de cor com a desculpa de combatê-los e assim, livre deles, conseguir as virtudes correspondentes. É claro que existem coisas das quais não abro mão, tais como gostar da vida de qualquer jeito que ela se apresente, mas nem sei se isso é uma qualidade. Pode ser falta de espírito crítico. Quando olho para o meu passado vejo quanta coisa deixei de fazer e acabo me esquecendo que fiz outras, que tudo foi uma questão de escolha. A escolha pode não ter sido a melhor, mas foi a escolha que fiz e isso deveria me bastar, mas as vezes não basta e eu fico triste pensando na parábola dos Talentos. Tenho ciência de que enterrei os meus e às vezes tão bem enterrados que não tenho mais jeito de recuperá-lo. Mesmo assim não nego que aprendi muitas coisas e que essas coisas eu penso quase sempre que são boas – eu nunca tive pressa para nada e isso eu acho que é uma boa qualidade porque vejo as pessoas se estafando e acho isso tudo muito cansativo. O prendi também a estar sozinha, mas não a ser solitária porque de certa forma aprendi a gostar da minha companhia embora goste muito de gente também, mas às vezes penso que gosto mais de gente a distância do que na presença. Aprendi a desfazer-me das minhas máscaras assim que noto estar afivelando-as ao meu rosto porque o bom mesmo é ser um indivíduo único no mundo, sem igual, embora para isso eu não precise nem ser grande, nem rica, nem famosa. A consciência de que não existe ninguém de verdade igualzinho a mim faz com que eu me sinta orgulhosa e busque cada vez mais a minha individualidade. Está certo, não vou mentir, eu tento, mas nem sempre consigo porque as máscaras são altamente pegajosas e difíceis de serem extirpadas. Bem que eu tento.
E outra coisa que venho tentando e praticamente já consegui é não precisar de ninguém para me sentir ligada ao Universo, parte ativa da Criação através do fragmento divino que habita em mim e ao qual eu chamo de Espírito. Mas apesar disso tudo ainda não me senti segura o suficiente para prescindir da companhia do outro e sei bem disso porque quando tentei aprender a nadar eu sempre tinha de segurar em alguma coisa mesmo que fosse um palito de fósforo. Eu não queria ser outra pessoa, queria ser eu mesma e por isso meu coração fica inquieto quando percebo que na morte não serei mais Maria Olímpia Alves de Melo. Está certo que a essência do que foi essa pessoa que fui eu estará para sempre marcada no meu espírito, mas não serei eu, serei outra provavelmente bem melhor do que fui porque já terá se livrado dos erros que cometi. Mas isso não me consola. Mas eu tento juro que tento, viver no dia de hoje e sem medo do dia de amanhã, pois afinal ele não existe e aí eu fico pensando nessa questão, o futuro não existe, o passado também não, mas o presente, afinal o que é o presente? Um ano, um mês, uma semana, uma hora, um minuto, um segundo ou bem menos que isso? Eu bem que tento, mas não consegui livrar-me de algumas coisas, como da minha indignação, nem consigo dizer não quando quero e digo sim só para fazer o outro feliz, embora o outro não esteja nem aí para a minha felicidade. Embora isso não seja mais tão freqüente assim me irrita quando quero dizer não e não consigo e ainda ponho aquela máscara sorridente no rosto quando a vontade é de chorar. Mas se eu tento e se o que importa é isso, é não desistir, continuar tentando então estou indo, carregando a esperança de que um dia eu consiga.
Maria Olimpia Alves de Melo
Lavras, 23 de janeiro de 2010