CRÔNICA PARA COMEÇAR JUNHO
Muitas pessoas pensam sobre o que é o sentido da vida. E se satisfazem com elaboradas conclusões. Mas outras, insistem numa minuciosa procura pelo sentido da vida. Uma procura, que no fundo, não carrega esperança de sucesso. Quanto a mim, não conheço o sentido da vida. E que com a ajuda da música suave que me acarinha a alma, passo a entender que o único, o verdadeiro, o compensativo sentido da vida é exatamente nos deixarmos fazer parte da tal procura. Não violarmos nenhuma lei que o destino calmamente tenha elaborado. Não rompemos com o momento, para apagar o nosso inútil medo.
A procura não é aquela em que gastamos todas as nossas forças, tentando desvendar nos mais obscuros e impenetráveis lugares o objeto de nossa busca. A procura em questão é como a mágica da canção, é sublime e não impõe quase nada. É por um instante, uma procura silenciosa e triste, mas triste só para merecer carinho. É ao mesmo tempo a procura de si mesmo e do outro. Como num rápido milagre é a eterna procura que faz com que saibamos respeitar e admirar o momento, como se respeita e espera um irmão distante.
Não há um exato momento em que nos sentimos confortados por termos encontrado a razão da nossa desesperada busca. Ficamos apenas mais quietos, só que com a alma feliz. De uma felicidade absurda e insondável. A procura necessita ser diária e a cada instante.
O que resta de procura em mim neste momento só reivindica uma coisa: que você continue surgindo em minha vida como uma rara orquídea no deserto. Que continue se insinuando vigoroso milagre e que não se canse de se apresentar como um pôr-do-sol, fazendo da minha vida uma fotografia mais aprazível de se ver. Que você continue sendo a parte mais forte da minha procura e, como num jogo sem vencido e vencedor, possa deixar-se encontrar um pouco a cada dia, para que o que há de eterno no momento se prolongue sem pressa por nós. E que nós tenhamos a graça de saber que somos a partir de agora, guardiões de um preciso segredo. O segredo de que a vida nos chama para a maior e mais sublime das caminhadas. E que nossos passos possam ser sérios, porém, sem perderem a beleza da caminhada.