Começar tudo de novo
Ainda era muito cedo quando pus-me de pé. É bem verdade que lençóis e travesseiros exerceram toda sua influência no afã de me reter um pouco mais na cama. Entretanto, não cedi a esse apelo tentador, apesar de que, por ser segunda-feira, ele costuma ser bem mais atraente, como se o organismo se recusasse a deixar para trás o fim de semana.
O verão corre solto e anda bem escaldante, mas as primeiras horas da manhã são de um frescor tal que, depois, ao longo do dia, surge aquela saudade dessa sensação. Barba feita e banho tomado acrescentaram um certo tom solene ao dia que se inaugurava. No céu o sol ainda não havia surgido, mas já rabiscara de laranja e amarelo o azul ainda sonolento. Os passarinhos cantavam e isso é agradável, porque parece que eles sempre estão em festa. Não sei se, de fato, festejam; mas que parece, parece.
O ambiente, de repente, viu-se tomado pelo revigorante aroma do café acabado de passar e, enquanto sorvido, foram buscadas as notícias do dia pelos jornais. Atualmente vejo os jornais pela internet e sinto falta do cheiro do papel e tinta e do ritual de ir desembrulhando as novidades, folha a folha. Pensando bem, é até estranho chamar o conteúdo de qualquer periódico de novidade, porque quanto mais o tempo passa, mais parece que tudo se repete e repete. Irrelevante a data do jornal que se leia, porque, certamente, haverá tragédias em algum lugar, previsões econômicas que nunca se confirmam, embates políticos que nunca se resolvem, disputas esportivas que não consagram ninguém de forma de definitiva; e coisas assim. A despeito disso, o hábito fala mais alto e não foi possível deixar para lá o impulso de vasculhar as manchetes.
Enfim, os rituais matinais se consumaram e, oficialmente, a semana foi dada como aberta e chegou o momento de retomar as rotinas da vida. Enquanto repassava a agenda, entre um compromisso e outro, fiquei buscando nas entrelinhas alguma coisa que indicasse que isso tudo ainda vale a pena. Certamente vale! Deve valer! Preciso que valha!
O que sei é que, mesmo sem compreender com clareza o sentido desta vida; tendo esperança, ou não; com ânimo ou sem; inexiste a opção de desistir. Portanto, nada mais resta a fazer, a não ser começar tudo de novo!
Que assim seja! Mãos à obra!
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