O CIGARRO - Fumaça nos olhos
Smoke gets on your eyes
(BAGANAS)
Encorajada pela maciça propaganda contra o tabagismo, que pretende exercer poder persuasivamente soberano, segue resumidamente uma visão assustadora que colabora para demonstrar a ineficácia e desperdícios das campanhas antitabagismo.
A falta de lixeiras apropriadas deixa os fumantes sem opção onde varejar suas guimbas, restando aos chãos, calçadas e jardins receberem calados todos os restos deste vício. Ficam provocativamente expostos, na maioria ainda em brasa, fumarando e catingando a céu aberto, juntamente com outros restos dos que ainda não sucumbiram ao hábito de higiene.
A variedade de problemas ou desafios que devem ser enfrentados por quem se dispõe a encerrar a carreira de fumante não é pouca. Motivos não faltam, a começar pelo mal-estar físico, desprezível catinga no ambiente, nas roupas e nos cabelos até o complexo de inferioridade, ferreteada pelas campanhas, por não se ser bom o suficiente para abandonar a droga do cigarro. Mais a humilhação quando se têm que ir para a neve, por exemplo, para fumar. Por outro lado há a incompreensão da incoerência quanto a se drogar com remédios para largar esta droga. O fato é que todos que fumam têm, além do desejo, muitos motivos para largar o cigarro, principalmente pelo gasto, discriminação e humilhações que se submetem em prol de uma tragada.
Na porta das maternidades e entradas de quaisquer hospitais é onde se acumula a maior quantidade de priscas. É um verdadeiro tabacal. Ou tabacômetro... Exatamente na parte externa do prédio conhecido como “amarelo” do Hospital das Clínicas e, do outro lado, na do Hospital do Coração se pode ter uma assustadora imagem da desinteligência quando se olha para o chão. É insano pensar que alguém que ou esteja a caminho do médico ou mesmo servindo de acompanhante, não tenha juízo suficiente, pelo menos ali, para não fumar. Engolir ou por no bolso as guimbas, já que não há lixeiras apropriadas, mas, o que mais assusta é o descontrole do viciado que nem mesmo na porta dos hospitais se amedrontam com o caminho para o qual este vício os leva.
Massificada pelas campanhas antítese das atuais, faço parte da geração “Paz e Amor” que cresceu incentivada a portar um cigarro entre os dedos como condição “sine qua non” para brilhar. Hoje repudio o cigarro ao mesmo tempo em que sou repudiada até pelos familiares desta geração, porque ao invés de trazer flores nos cabelos, eu trago alcatrão.
Não se fuma em aviões e aeroportos e, no entanto os viciados conseguem passar até mais de 10 horas sem a droga. Já em terra, a primeira providência é desembestar-se em direção a um maço de cigarros, e logo com a primeira tragada, após tantas horas sem a nicotina e, provavelmente, os efeitos barométricos, o corpo reage com tontura, esmorecimento e até desmaio total. Para o viciado nada é suficiente para abandonar definitivamente tal perniciosa “fumofagia”, esse hábito de levar “fumo”, “miasma” que por décadas nos introduziram goela abaixo como sinonímia de sucesso.
A solução para parar de fumar todos nós conhecemos, vai desde encerrar o cigarro à condição de droga proibida até vetar a sua fabricação, não obstassem as vantagens que esse nosso vício proporciona aos governos, que investem uma ínfima percentagem desse lucro em falaciosas campanhas, cujo objetivo declarado não têm a real intenção de atingir.
Soaroir Maria de Campos 17/8/06